Desafios para Boric

Desafios para Boric

Na recente eleição, Chile entrou também na síndrome da radicalização política

Jurandir Soares

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O Chile é país da América Latina que tem apresentado maior crescimento e maior estabilidade econômica nos últimos anos. Tem sido considerado um modelo de transparência política e financeira. Desde o término da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990, o país vinha sendo governado ora pela centro direita, como está hoje com Sebastián Piñera, ora pela centro esquerda, como ocorreu com Michele Bachelet. E a política econômica sempre foi liberal, seguindo o que fora traçado mesmo no período de ditadura pelos chamados “Chicago Boys”, os discípulos de Milton Friedman. Economia aberta, baixos impostos e acordos comerciais com um leque de blocos econômicos.

Na recente eleição, no entanto, o país entrou também na síndrome da radicalização política, tanto que no segundo turno a escolha ficou entre o candidato da extrema direita José Antônio Kast e o da extrema esquerda Gabriel Boric, que acabou sendo o vencedor. Com isto, o país vem se somar à Argentina, Venezuela, Bolívia e Peru, todos sob regime de esquerda. Boric, no entanto, tem uma realidade muito clara na sua frente, para servir de ponto de referência para seu governo. E esta realidade é a diferença entre a situação do seu país e a dos seus vizinhos, especialmente Venezuela e Argentina. Se embarcar no canto da sereia entoado no “socialismo do século 21” ditado pelo chavismo, seguido por Nicolás Maduro e copiado por Alberto Fernandez, estará levando seu país rumo ao desastre. Isto é o que aconteceu com um país que é um dos maiores produtores de petróleo do mundo e com outro que era líder na produção e exportação de carne e de trigo.

O Chile, é importante lembrar, tem altos rendimentos através da mineração, da indústria e do turismo. A mineração é uma das principais responsáveis pela captação de receitas financeiras, visto que ela impulsiona tanto o setor industrial quanto o de serviços. O solo chileno é extremamente rico em recursos minerais, com destaque para as reservas de cobre – o país é o maior produtor e exportador mundial. Outros importantes minérios são: carvão, manganês, minério de ferro, molibdênio, zinco, chumbo e ouro. A indústria, responsável por cerca de 50% do PIB nacional, se concentra próxima à capital, Santiago. Os principais segmentos são o alimentício, a produção de vinho, têxtil, metalúrgico, siderúrgico, mecânico, maquinário, cimento, madeira e derivados, beneficiamento de minérios etc. E para o turismo é só lembrar as belezas naturais, a arquitetura, o valor histórico, entre outros fatores, que fazem com que aproximadamente dois milhões de pessoas visitem o Chile por ano. Os principais destinos são as estações de esqui, o deserto de Atacama, o Vale da Lua, a Patagônia, a Ilha de Páscoa, Viña Del Mar e a própria capital Santiago, com seus vinhedos nos arredores. Administrar este legado sem se deixar cair no populismo esquerdista é o grande desafio para Gabriel Boric.


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