Desertores e a invasão

Desertores e a invasão

O que os desertores russos têm a falar sobre a guerra

Jurandir Soares

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“A decisão de invadir a Ucrânia foi a mais estúpida possível.” A sentença é do soldado russo Pável Filátiev, um sargento paraquedista de 34 anos, que desertou do Exército depois de ter participado da guerra na Ucrânia. Ele, que radicou-se em Paris, acaba de publicar um livro contando sua experiência, cujo resumo está sendo divulgado pelo jornal El País. O título do livro é “Zov”, que significa “Chamamento” e faz alusão às letras inscritas nos veículos militares russos. Foi publicado em espanhol pela editora Galaxia Gutenberg, com tradução de Andrei Kozinets. Ele diz que se Putin morrer a guerra acaba, porque é só ele que dá impulso para a sua continuação.

Filátiev conta que em determinado momento sentiu que não poderia mais continuar participando disso. “O mais difícil foi dar-se conta de que aquela guerra era inútil. A decisão foi a mais estúpida possível. Era nefasta para a Ucrânia e não iria trazer nada de bom para a Rússia.” Ele não gosta de ser chamado de desertor, pois é convicto de que abandonou uma ação nefasta que era desenvolvida contra um povo irmão. Aproveitou para sair quando teve que tratar-se de uma conjuntivite, decorrente de torrão de terra que atingiu seu olho em decorrência de um bombardeio. Em abril, ao invés de retornar, difundiu sua decisão numa rede social e, com a ajuda de uma ONG russa chamada New Dissidents Foundation, em agosto conseguiu sair do país, indo para a França, onde está na espera de que lhe concedam a condição de refugiado político.

No relato que faz a El País Filátiev diz que “não sabia que a guerra iria começar e quando vi estava em meio ao teatro de operações. Em princípio estava meio perdido, porque não se recebia informações. Só me dei conta quando os mísseis começaram a passar sobre nossas cabeças e os combates começaram a acontecer. Só aí vimos que era uma guerra de verdade”. Ele ressalta que quanto mais organizado é um exército menos desordem acontece. Mas, no caso do exército russo, o nível de desordem supera todos os limites, sendo caótico. E o pior, os saques que são praticados por onde passam. Isto, ressalta Filátiev, “me fez sentir vergonha alheia”. Ou seja, o livro desse ex-soldado russo revela um pouco daquilo que se percebe à distância a respeito dessa injustificável guerra. 

E nesta terça-feira, a EuroNews noticiou que um comandante do grupo mercenário russo Wagner fugiu para a Noruega, onde está disposto a falar e contar o que sabe sobre crimes de guerra cometidos pelos russos. As autoridades norueguesas confirmam ter detido Andrei Medvedev, depois de atravessar a fronteira entre a Rússia e a Noruega, no norte da Península Escandinava. Medvedev quer asilo político e contar pormenores sobre as atividades do grupo Wagner na Ucrânia, nomeadamente maus-tratos e execuções sumárias de prisioneiros russos obrigados a combater. Diz ainda ter vários segredos a respeito do fundador do grupo, Yevgeny Prigozhin, que considera uma figura muito próxima de Vladimir Putin. Ou seja, mais revelações pela frente sobre as atrocidades russas na Ucrânia.


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