Diplomacia de Lula em baixa

Diplomacia de Lula em baixa

“Este mesmo Nicolás Maduro que Lula tentou dourar como democrata lhe deu as costas quando o brasileiro tentou cobrá-lo a respeito da lisura das eleições presidenciais venezuelanas, marcadas para 28 de julho.”

Jurandir Soares

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra na Colômbia fazendo o que mais gosta: conversar com dirigentes latino-americanos que tenham sua mesma ideologia. Neste caso, encontro com o presidente Gustavo Petro, que é o primeiro presidente de esquerda a ser eleito no vizinho país. E o único dirigente que lhe deu respaldo quando cometeu uma de suas muitas gafes internacionais, ao comparar a ação de Israel em Gaza ao Holocausto. O episódio culminou com o governo de Israel declarando Lula persona non grata no país.

Lula começou seu terceiro governo focado nas questões exteriores, com a nítida impressão de que seu objetivo era conquistar o Prêmio Nobel da Paz. Tanto que sua primeira ação em nível mundial foi tentar ser o mediador da guerra que a Rússia trava contra a Ucrânia. E aí veio com uma preciosidade: “A razão para essa guerra, por tudo que eu escuto, por tudo que eu leio, seria resolvida aqui no Brasil numa mesa tomando cerveja... Se não na primeira cerveja, na segunda”. Acabou sendo ridicularizado em nível internacional, por considerar que um dos mais graves conflitos dos tempos atuais se resolveria com uma cerveja numa mesa de boteco.

Narrativa

Em tempos passados, Lula transitou bem entre seus pares latino-americanos, a ponto até de constituírem o Foro de São Paulo. Embora a ideia da união dos partidos de esquerda da região tenha partido de Fernando Henrique Cardoso. Mas Lula impulsionou as relações. Todavia, neste atual mandato só tem somado fracassos. Começou com a reunião que promoveu em Brasília, em maio de 2023, com a presença de 11 presidentes sul-americanos. Na ocasião, levando pelo braço o ditador venezuelano Nicolás Maduro, tentou convencer os seus parceiros de que “a Venezuela é vítima de uma narrativa”. Levou foi uma forte contestação, não só do uruguaio Luis Lacalle Pou, que é de direita, mas também do chileno Gabriel Boric, que, como Lula, é de esquerda. E este foi contundente. “Não é uma construção narrativa, é uma realidade, é séria, e tive a oportunidade de vê-la de perto nos rostos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que, hoje, vieram para nossa pátria e que exigem também uma posição firme e clara de que os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em qualquer lugar, independente da coloração política do atual governante. Isso se aplica a todos nós”, comentou na ocasião o chileno.

Pois este mesmo Nicolás Maduro que Lula tentou dourar como democrata lhe deu as costas quando o brasileiro tentou cobrá-lo a respeito da lisura das eleições presidenciais venezuelanas, que estão marcadas para 28 de julho. Apesar dos apelos de Lula, Maduro foi descartando uma a uma as possíveis candidaturas oposicionistas na Venezuela. Com o que, já se sabe de antemão qual será o resultado do pleito. Maduro tampouco ouviu Lula, quando este lhe pediu para aliviar as tensões com relação a pretensão territorial da Venezuela com relação à vizinha Guiana. Maduro quer “apenas” dois terços do território da Guiana, rico em petróleo e outros recursos minerais. Lula teve que mandar reforço militar para a fronteira norte brasileira, diante da perspectiva de forças venezuelanas invadirem nosso território para penetrar na Guiana.

Igrejas

O mais recente caso de aliado de Lula que não ouve suas ponderações é do ditador da Nicarágua, Daniel Ortega. Este vem desenvolvendo uma perseguição à Igreja Católica no seu país. Igrejas já foram queimadas e bispos foram expulsos do país. No ano passado, Lula tentou interceder, ligando para Ortega. Este não o atendeu e tampouco atendeu o pedido de retornar a ligação. O objetivo do presidente brasileiro era a libertação do bispo Rolando José Álvarez, que esteve detido por cerca de 500 dias. O religioso acabou sendo expulso do país, o que foi motivo de pedido de desculpas de Lula ao representante do papa Francisco, o cardeal Pietro Parolin. O bispo Álvarez foi expulso da Nicarágua no domingo, 14, juntamente com outros 18 religiosos, que haviam sido presos entre as festas de Natal e Ano Novo. Ou seja, Ortega também não dá a mínima para Lula, cuja diplomacia, como se observa, está cada vez mais em baixa, até mesmo no território em que ele deu as cartas durante muito tempo.


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