E agora, Argentina?

E agora, Argentina?

E há que salientar que no último debate entre os dois candidatos Massa foi considerado vencedor.

Jurandir Soares

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Esta é a pergunta que se impõe neste momento em que os cerca de 37,5 milhões de eleitores argentinos terão que decidir, neste domingo, se continuam com o sistema vigente, elegendo o peronista Sergio Massa, ou se apostam em uma mudança radical, colocando o libertário Javier Milei na presidência do país pelos próximos quatro anos.

Levantamento da Universidade de San Andrés aponta que 55% dos argentinos indicam que a inflação é o maior problema atualmente do país. A insegurança vem em segundo lugar, sendo mencionada por 38% da população. Pois, a inflação argentina bate nos últimos 12 meses em 142,7%, a mais alta da América Latina, perdendo apenas para a da Venezuela. Aliás, dois países cujos sistemas são parceiros dos atuais ocupantes do governo brasileiro. Os quais, inclusive, mandaram marqueteiros para a Argentina para ajudar na campanha de Massa. E foram chamados por Milei de “malditos marqueteiros brasileiros”.

Atualmente, quatro em cada dez cidadãos argentinos estão mergulhados na pobreza. Este somatório de inflação, pobreza e narcotráfico gera a violência que até há pouco tempo o país não conhecia. Superar esses problemas é o desafio que se apresenta para o futuro ocupante da Casa Rosada. O que surpreende no atual contexto é o fato de o atual ministro da Economia chegar ao dia da eleição com amplas possibilidades de ser o vencedor. Afinal, as pesquisas, apesar de apontar uma pequena vantagem para Milei, ressaltam que há um empate técnico. Na última pesquisa AtlasIntel, divulgada na sexta-feira, 10, Milei aparece com 52,1% das intenções de voto, contra 47,9% de Massa.

Pesquisa publicada na quinta-feira, 9, pelo jornal “Clarín”, consolidava cenário de empate, mas também com leve vantagem para Milei, com 43% das intenções, ante 39% de Massa. Em outra pesquisa, realizada pela Celag (Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica), Massa apareceu na frente com 46,7% das intenções de voto, contra 45,3% de Milei. Essa foi a única projeção em que o ministro da Economia apareceu na frente. Estas são as mais recentes pesquisas, tendo em vista que a lei argentina não permite a realização e divulgação delas na semana da eleição. E há que salientar que no último debate entre os dois candidatos Massa foi considerado vencedor. Milei não soube aproveitar o fato de Massa ser o responsável pelo atual desastre econômico da Argentina. Assim como pelo fato de ele não ter apresentado uma proposta que seja diferente do que vem sendo praticado pelos governos peronistas, os causadores da atual situação do país.

Massa concentrou seus discursos na indústria argentina e sempre se postando ao lado do trabalhador. Ora, a indústria argentina, com exceção de algumas automobilísticas, está sucateada. Sem perspectiva de ser geradora de empregos. Curioso que pouco falou do agronegócio, o carro-chefe da economia argentina, que vem sofrendo nos últimos tempos nas mãos dos governos peronistas. Ao tempo de sua presidência, Cristina Kirchner taxou as exportações da carne argentina, fazendo com que perdesse a liderança que tinha no mercado internacional. Os produtores brasileiros e uruguaios agradeceram. Quanto ao trabalhador, este está acostumado às benesses concedidas pelo estado, que são o fator de afundamento da economia do país. Os subsídios atingem 7% do PIB do país. Tornaram-se fator determinando ao peronismo para a captação de votos.

Romper com essa estrutura e promover a recuperação do país é o desafio. Milei acena com sua proposta libertária na oposição ao que vem sendo praticado. Porém, assusta quando fala em dolarização da economia e fechamento do Banco Central. Na realidade, a Argentina tem uma tradição de operar os negócios em dólares, mas o que é colocado como dificuldade para a implantação do sistema é a pequena quantidade da moeda norte-americana circulando no país. Porém, do ano 2000 para cá dois países da região, Equador e El Salvador, adotaram o dólar como moeda nacional. O Panamá já tem esta prática desde sua independência. O fato é que Milei, com seu jeito extravagante e seu slogan - “Viva la Libertad, carajo!” – assusta muitos eleitores. Não é sem razão que nos últimos dias tratou de moderar um pouco o seu discurso.

Enfim, o fato é que grande parte do eleitorado argentino se vê diante de uma situação em que nenhum dos candidatos é aquele que gostaria que fosse. E assim terá que se decidir entre um e outro. Ou abster-se, o que parece ser uma opção que terá um percentual muito elevado.


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