Eslováquia e Trump assustam a Europa

Eslováquia e Trump assustam a Europa

Eslováquia à beira da mudança: Eleição de primeiro-ministro pró-Rússia e o ressurgimento de Trump geram temores na Europa

Jurandir Soares

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A Eslováquia, país-membro da OTAN e da União Europeia e que faz fronteira com a Ucrânia, acaba de eleger um primeiro-ministro pró-Rússia e que quer acabar com o apoio do país ao governo de Volodimir Zelensky. O vencedor, Robert Fico, ainda precisará compor uma aliança com outros partidos, porque o seu Partido Direção Social-Democrata – Smer não conseguiu a maioria no parlamento de 150 membros. A Eslováquia foi o primeiro país a enviar defesas aéreas para a Ucrânia e acolheu dezenas de milhares de refugiados. Além disso, repassou cerca de 1,3% de seu Produto Interno Bruto em auxílio militar e econômico à Ucrânia. Fico entende que parar de enviar armas à Ucrânia significa uma iniciativa de paz, porque daí a guerra terminaria. Só que, neste caso, terminaria com a vitória da Rússia e a Ucrânia tendo que entregar parte de seu território.

A Eslováquia compunha com a Tchéquia, ao tempo da União Soviética, a Tchecoslováquia. Após a queda do comunismo no Leste europeu as duas repúblicas resolveram se separar, com a Eslováquia adquirindo sua independência em 1992. Na onda de fugir do comunismo e se aproximar da Europa, aderiu à União Europeia em 2004 e adotou o euro como moeda em 2009. Antes disto, em 1999, como fizera a maior parte dos países que compunham o Pacto de Varsóvia, a força militar da União Soviética, aderiu à OTAN.
O vencedor da eleição, Robert Fico, serviu anteriormente como primeiro-ministro da Eslováquia durante mais de uma década, primeiro entre 2006 e 2010 e depois novamente de 2012 a 2018. Ele foi forçado a renunciar em março de 2018, após semanas de protestos em massa contra o assassinato do jornalista investigativo Jan Kuciak e de sua noiva, Martina Kušnírová. Kuciak reportava sobre a corrupção entre a elite do país, incluindo pessoas diretamente ligadas a Fico e ao seu partido Smer. Em 2020, os eslovacos, cansados da corrupção, elegeram o OLaNO, Partido das Pessoas Comuns e Personalidades Independentes, e o seu líder Igor Matovi. Mas acabaram se desiludindo. Matovi, um milionário, venceu as eleições com uma forte plataforma anticorrupção, prometendo “limpar” a Eslováquia. Todavia, lutas internas no partido e problemas administrativos durante a pandemia de Covid o levaram à renúncia, O último a tornar-se primeiro ministro foi o tecnocrata Ludovit Odor. Todos esses desencontros deram a Fico a oportunidade de retornar ao poder. Só que agora num contexto diferente, em que há uma guerra no país vizinho, deflagrada pelo líder que ele apoia. Fato que causa temores na Europa.

Mas o que também está causando muito preocupação na Europa é a possibilidade de Donald Trump retornar à presidência dos Estados Unidos, conforme estão indicando as pesquisas. Na realidade, o retorno de Trump é visto como uma “perspectiva aterrorizante”, segundo o jornal Político, do grupo alemão Alex Springer. A publicação salienta que Trump já falou em "abandonar a Otan e agora promete acordo de paz com a Rússia”. De fato, quando presidente, Trump diminuiu as contribuições dos EUA para a organização.

Conforme noticiara o jornal The New York Times, em 15 de janeiro de 2019, Trump considerava a OTAN obsoleta e manifestara várias vezes o desejo de abandoná-la. Não chegou a concretizar seu desejo durante seu mandato. Porém, voltando ao poder é possível que faça não somente isto, mas cancele a ajuda à Ucrânia e faça um acordo com a Rússia. O que representaria a derrota da Ucrânia e a consequente vitória da Rússia com a tomada dos territórios ucranianos que hoje ocupa. E, por extensão, uma derrota para a Europa e o enfraquecimento da Aliança Atlântica que fora criada para protegê-la. Daí os temores da Europa com a Eslováquia e com Trump.


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