Estado da Palestina já existe

Estado da Palestina já existe

Este Estado já foi criado, junto com o Estado de Israel, em 1947, quando a ONU decidiu pela partilha das terras que ambos os povos ocupavam

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Uma das colocações que tem sido postas com mais frequência, pelas mais diversas autoridades mundo afora, é de que a solução para acabar com o conflito entre israelenses e palestinos é a criação do Estado da Palestina. Este Estado, no entanto, já foi criado, junto com o Estado de Israel, em 1947, quando a ONU decidiu pela partilha das terras que ambos os povos ocupavam. O que aconteceu na época foi que os palestinos não aceitaram o Estado judeu e foram à guerra com o apoio do mundo árabe. Só que foram derrotas naquela como em outras três guerras que travaram, o que fez com que até hoje Israel mantenha o domínio sobre todo o território. Nesse aspecto, houve uma incoerência por parte dos Estados Unidos quando, na semana passada, foi apresentada no Conselho de Segurança da ONU uma proposta para o reconhecimento do Estado da Palestina. Os Estados Unidos usaram seu poder de veto, alegando que a ONU não era o foro para decidir sobre o assunto. Que isso só poderia ser decidido mediante acordo entre os representantes israelenses e palestinos. Ora, foi no âmbito da ONU a decisão, em 1947, pelos dois Estados.

ACORDO DE OSLO

Mas esta negociação direta entre as duas partes chegou a acontecer e levou até a um resultado positivo. Foi o chamado Acordo de Oslo, firmado em 1993, sob a mediação dos EUA. O fato chegou a dar o Prêmio Nobel da Paz para os signatários, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin e o chanceler de Israel Shimon Peres. E o líder da Organização para a Libertação da Palestina Yasser Arafat. O acordo sofreu um impacto dois anos depois, quando Rabin foi assassinado por um judeu ortodoxo. Mesmo assim os palestinos foram adquirindo autonomia administrativa em muitas cidades e tudo marchava para a concretização de uma convivência pacífica. Faltava só definir sobre algumas áreas ocupadas e sobre Jerusalém. Nesse ponto Arafat foi forçando muito a corda nas negociações com o então primeiro-ministro Ehud Barak e esta acabou arrebentando. Pressionado, sob acusação de estar cedendo muito, Barak caiu e assumiu em seu lugar o radical Ariel Sharon e tudo voltou à estaca zero.

CONFRONTAÇÕES

Desde então só tivemos confrontações. Estas praticadas pelo lado palestino através do Hamas, que foi criado como um partido político, mas que se militarizou e tomou conta da Faixa de Gaza, depois que Israel abandonou aquela área em 2005. Em 2007, expulsou dali o outro partido político palestino, o Fatah, de tendência moderada. Enquanto o Hamas prega a destruição do Estado de Israel, o Fatah, que domina a Cisjordânia, aceita o Estado de Israel, desde que seja aceito o Estado da Palestina.

O Hamas foi se radicalizando cada vez mais, passando a atacar cidades israelenses próximas à fronteira com Gaza e passou a ser visto pelos EUA, União Europeia e alguns outros países como uma organização terrorista. E esta denominação foi consagrada com os ataques perpetrados a 7 de outubro da 2023 em Israel, quando matou cerca de 1.200 pessoas e sequestrou outras 300.

PROPOSTA DO HAMAS

Pois, em meio a esta guerra que vem sendo travada em Gaza, o Hamas surgiu nesta sexta-feira com uma surpreendente proposta: uma trégua de cinco anos em troca de Israel aceitar a solução de dois Estados. Segundo o jornal espanhol El País, esta proposta foi apresentada, numa entrevista em Istambul, por Jalil Al Haya, alto dirigente político do grupo palestino radical. Este reconhecimento de Israel e Palestina como Estados se daria com base nas fronteiras de 1967 definidas pela ONU. O autoproclamado movimento de resistência estaria disposto a depor as armas e converter-se num partido político, aceitando uma trégua de cinco anos. Convenhamos que uma trégua é uma proposta ridícula, pois pressupõe que, vencido o período, os combates serão retomados. A proposta cabível seria o fim da beligerância.

De qualquer maneira, é uma proposta surpreendente, mas que, como as demais que foram alvo de negociações, poderá esbarrar numa questão crucial: Jerusalém. Israel já declarou a cidade sua capital una e indivisível. Caberia aos palestinos aceitarem como sua capital Ramallah, onde já funciona sua sede administrativa. Ou seja, possibilidades de acerto existem, o que é preciso é deixar o radicalismo de lado. Algo muito difícil de ser feito naquela região.


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