Europa em pré-guerra

Europa em pré-guerra

Aumentam preocupações de possível confronto direto com a Rússia

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Nesta semana um míssil russo, lançado para atingir a cidade ucraniana de Lviv, sobrevoou por 39 segundos o espaço aéreo da Polônia, acionando os sistemas de alarme poloneses. O incidente não é o primeiro do gênero e serve para aumentar as preocupações de um possível confronto direto com a Rússia, o que, por extensão, significaria uma guerra da OTAN contra Moscou, tendo em vista que o artigo 5° do estatuto da organização estabelece que a agressão a um de seus membros representará a agressão a todos. Para o primeiro ministro polonês Donald Tusk, 66 anos, isto significa que “estamos em uma época de pré-guerra. Não exagero”. E acrescentou: “Nosso dever não é discutir, mas nos preparar para nos defender”, alertando que o conflito na Ucrânia tende a ampliar-se.

As manifestações do novo dirigente polonês foram feitas desde o seu gabinete em Varsóvia, numa entrevista coletiva para veículos de comunicação de países membros da OTAN. E ele aproveitou para clamar por algo que o então presidente norte-americano Donald Trump já defendia. Ou seja, que os integrantes da Aliança Atlântica dediquem 2% de seu orçamento para ela. O dirigente, que na Polônia é adorado por uns e odiado por outros, já foi primeiro-ministro de 2007 a 2014 e voltou ao poder após ganhar as eleições de outubro último. Sua tarefa principal é restaurar a harmonia no país, depois de oito anos do governo conservador do Lei e Justiça.

ATAQUE DA RÚSSIA

Ao ser indagado a respeito de manifestações de políticos e de militares europeus, de que a Rússia pode, em poucos anos, atacar países da OTAN, disse que “o mais preocupante hoje é que, literalmente, qualquer cenário é possível”. E invocou a História para lembrar as tragédias vividas por seu país, que foi o primeiro a ser invadido por Hitler, em 1939, no que foi o estopim da Segunda Guerra Mundial. E, depois da guerra, seu país ficou sob o tacão de Moscou, no regime comunista que se estendeu até 1989. Por isto seu povo valoriza tanto a liberdade e teme tanto uma nova guerra que, segundo ele, se desenha inevitável.

Tusk contou para os repórteres, dirigindo-se especialmente ao representante do El País, que o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez pediu-lhe que não utilizasse a palavra guerra em suas declarações, argumentando que as pessoas não querem se sentir ameaçadas. Que isto na Espanha soa meio abstrato. “Respondi-lhe que nesta parte da Europa (perto da Rússia) a palavra guerra não soa como uma abstração e que nosso dever não é discutir, mas atuar e nos prepararmos para nos defender”. O dirigente polonês ressaltou que, antes de tudo, é preciso pensar no presente e isto significa ajudar a Ucrânia a livrar-se da ocupação russa. Considera que a situação ucraniana hoje é difícil, porém melhor do que no início da guerra, quando os tanques russos marcharam até Kiev.

PALAVRA DE PUTIN

Nesta quinta-feira, 28, segundo transcrição do Kremlin, ao falar sobre a OTAN, Putin disse: “Não temos intenções agressivas em relação a esses Estados. A ideia de que atacaremos alguma outra nação é bobagem, conversa fiada”, completou. Bem, começa que a palavra de Putin não é confiável. Vide o que dizia pouco antes de deflagrar o ataque à Ucrânia, em fevereiro de 2022. Ou seja, de que estava apenas realizando manobras militares e que não haveria nenhum ataque. Todavia, na declaração que fez e que teria sido a pilotos de sua Força Aérea, ressalvou que, se o Ocidente fornecer caças F-16 à Ucrânia, eles serão abatidos. Putin subiu o tom. “Se eles fornecerem F-16 - e estão falando sobre isso e aparentemente treinando pilotos - isso não mudará a situação no campo de batalha. Destruiremos as aeronaves assim como destruímos hoje tanques, veículos blindados e outros equipamentos.”

As declarações de Putin sucedem os comentários feitos horas antes pelo ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, de que as aeronaves devem chegar ao território invadido nos próximos meses. Avião de combate mais popular do mundo, o F-16 é considerado de fácil manejo e flexibilidade operacional e por isso é objeto de desejo da Ucrânia para tentar reverter a vantagem aérea das forças invasoras da Rússia. Ao mesmo tempo em que o primeiro-ministro polonês lembra a advertência de Trump, no sentido de que os países membros devem destinar 2% de seu PIB para a OTAN, lembra também que o republicano é contra o envio de ajuda para a Ucrânia. E isto faz reforçar a teoria de que a Europa deve se preparar para a guerra sendo mais independente da ajuda americana. E para isto precisa se armar e aprimorar seus serviços de inteligência. Tudo dentro de um cenário de pré-guerra.


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