Feminicídio iraniano

Feminicídio iraniano

Regime desenvolve uma repressão brutal, especialmente contra as mulheres

Jurandir Soares

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“Mulheres, vida e liberdade” é o lema que está sendo bradado pelas mulheres no Irã, desde que se incrementaram os protestos pela morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, após ser detida pela Polícia Moral, sob o argumento de que estava usando inadequadamente o hijab, o véu que toda muçulmana do país é obrigada a usar a partir dos 9 anos de idade. Protestos que começaram em meados do mês passado e que já provocaram a morte de 41 pessoas, segundo os dados oficiais, ou de cerca de 150, de acordo com uma ONG iraniana que trata dos direitos humanos. Simbólica uma foto de um grupo de meninas em uma sala de aula apontando o dedo do meio para a foto dos líderes da república islâmica, o aiatolá Khomeini, que liderou o golpe que instituiu o regime em 1979, e o atual mandatário o aiatolá Ali Khamenei.

A foto das meninas e a menção à revolução de 1979 fazem lembrar que as mulheres iranianas já gozaram de plena liberdade de se vestir, de se portar e de opinar. Sim, porque antes disso o Irã era um dos países mais ocidentalizados do Oriente Médio, sob o regime do xá Mohammed Reza Pahlevi. Com o apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido, Pahlevi modernizou o país, mas governou ditatorialmente, sufocando os movimentos islâmicos e democráticos. A falta de alternância no poder levou à corrupção. E a corrupção levou ao golpe e ao período de trevas que está vivendo este país, que tem uma importância histórica extraordinária por ser berço da antiga Pérsia dos reis Ciro, Dario, Xerxes e Alexandre, o Grande, e cujo império começou em 560 AC. Hoje o Irã é uma potência média regional, mas de grande importância por ser o maior produtor mundial de gás e o quarto de petróleo. Possui cientistas de renome internacional. Porém, ao mesmo tempo, o regime desenvolve uma repressão brutal, especialmente contra as mulheres, que têm sido submetidas à pena de morte. Segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), todo ano são executadas cerca de 10 mulheres com base na Sharia, a rigorosa lei islâmica. Desde 2010, o Irã enforcou 170 mulheres, conforme a mesma organização.

Não é sem razão, portanto, que os protestos se espalham pelo país. Porém, o regime, ao invés de avaliar as origens dos problemas, prefere acusar Estados Unidos e Israel pelo que está acontecendo no país.

 


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