Gaza nas universidades americanas

Gaza nas universidades americanas

Manifestações que começaram na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, se espalharam de costa a costa nos EUA

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Enquanto o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, retorna do Oriente Médio sem conseguir qualquer avanço no sentido de estancar a guerra que está sendo travada na Faixa de Gaza entre o Hamas e Israel, se expandem pelas universidades dos Estados Unidos os conflitos que têm como pano de fundo este mesmo tema. De repente, as manifestações que começaram na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, se espalharam de costa a costa no país. Os confrontos entre estudantes e policiais passaram a ser uma constante. Assim como entre estudantes pró-Israel e pró-Palestina. Duas questões marcantes estão presentes. Uma delas é o inegável antissemitismo que, desgraçadamente, ainda perdura em algumas partes do mundo. De outra parte, está o apoio à causa palestina, que se viu crescer substancialmente, pelos mais diversos países, em função do elevado número de civis palestinos que estão morrendo em decorrência do conflito.

BANDEIRA

Desde 18 de abril, a bandeira da Palestina tremula em diversas universidades dos EUA. São ao menos 25 campi em 21 estados, de leste a oeste do país. Algo não visto desde os protestos dos anos 1960/70 contra a guerra no Vietnã. Como naquela ocasião, os estudantes montaram acampamentos nos pátios das universidades, se negaram a desmontá-los e enfrentaram a repressão policial. A situação vai desde a vigente calma tensa da Universidade Columbia, onde a direção pediu para a polícia permanecer vigilante, até os confrontos na UCLA, a Universidade da Califórnia em Los Angeles, entre estudantes pró-palestinos e estudantes pró-Israel. Segundo a agência Reuters, somente a Universidade Brown, em Rhode Island, recuperou a calma sem a intervenção policial, após os estudantes concordarem em desmontar as barracas. Curiosamente, fundada em 1764, portanto, antes da independência dos EUA, a Universidade Brown foi a primeira a aceitar estudantes sem distinção por religião.

REFLEXO

O que acontece nas universidades americanas é um reflexo, mais extremado, do que ocorre no mundo, em decorrência do confronto de Gaza. E não se pode misturar manifestações pró-Palestina com manifestações pro Hamas. Ocorre que, desde os selvagens ataques do Hamas a Israel, em 7 de outubro, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando outras 300, o tema está em destaque. Na ocasião, apenas uma minoria radical, quase toda de extrema esquerda, deu apoio ao Hamas. Porém, a situação foi mudando, na medida em que Israel contra-atacou e em que o número de civis palestinos mortos começou a ser contado aos milhares, enquanto que aqueles que buscavam sobreviver tiveram que ir se deslocando de uma cidade para outra, em meio a uma escassez cada vez maior de alimentos e medicamentos.

CAUSA

Esses acontecimentos despertaram para o mundo a causa de um povo que vive em um território que não tem o reconhecimento internacional como um Estado. E o que é pior, em sua maior parte, este território está sob ocupação militar de Israel. Acrescente-se ainda que parte deste território vem sendo tomada por Israel, com a implantação de colônias judaicas.

Portanto, estas disputas nas universidades norte-americanas não podem ser encaradas apenas como manifestações antissemitas ou de apoio ao Hamas. Há uma causa histórica que está presente e que ganha substancial apoio internacional. A solução, sabidamente não é fácil, mas o caminho está aberto. E passa pela extensão dos Acordos de Abrahão, mediados pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, e envolvendo Israel e países árabes.

MUDANÇA

Israel, tempos passados, era cercado de inimigos árabes. Esta situação mudou. Hoje há acordos de paz com Egito e Jordânia, firmados há mais tempo, e com Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos, assinados recentemente. Ficou bem encaminhado o termo com a Arábia Saudita, que não avançou por causa dos acontecimentos em Gaza. E a condição básica que os sauditas colocaram para assinar é a solução do problema palestino.

É claro que terá que estar explícito na concretização do Estado da Palestina o compromisso com a segurança de Israel. Que hoje é o principal ponto pelo qual as autoridades israelenses se negam a reconhecer o Estado palestino. O caminho é difícil, porém, a solução existe. Só que, antes de tudo, é preciso acabar com a guerra em Gaza. Com o que, espera-se, acabarão as manifestações nas universidades americanas.


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