Governo espanhol balança

Governo espanhol balança

Quando se mira uma troca de governo, quase sempre está à frente a questão econômica.

Jurandir Soares

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Adiantar para 23 de julho a eleição parlamentar que estava marcada para ocorrer em 10 de novembro foi a solução encontrada pelo primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, para evitar um desgaste maior de seu governo e de seu Partido Social Operário Espanhol. Isto se deu devido à vitória dos partidos de direita, Partido Popular e Vox, nas eleições regionais da Espanha, realizadas no fim de semana que passou. Estas fizeram com que muitos dos governos regionais e de prefeituras passem a ser administrados pelo PP, que é um partido de direita, ou pelo Vox, considerado de extrema-direita.

Adiantar data de eleição para evitar derrota futura não é novidade para o atual governante. Sanchez já fez isto em 2019, quando governava havia poucos meses, mas o fez diante de uma moção de censura do Parlamento. Naquela ocasião houve uma grande mobilização da esquerda, diante da ameaça do Vox, que havia conquistado o governo da Andaluzia. Passados este quatro anos, o Vox já não é mais uma hipótese, mas uma realidade crescente, conforme apontaram os resultados de domingo. E o PP se recuperou muito desde 2019, quando obteve os piores resultados de sua história, tanto nas eleições regionais como nas nacionais. Por isto que Sanchez faz essa manobra agora para tentar frear o avanço da direita.

Quando se mira uma troca de governo, quase sempre está à frente a questão econômica. Com uma população de mais de 45 milhões de habitantes, a Espanha tem sido um dos países estáveis da Europa. Além disso, sua economia é a sexta maior do continente e a 14º em escala mundial, com destaque para as atividades turísticas, o comércio e a indústria de transformação. Mas tem aquele fator que é decisivo num processo eleitoral: entre 2022 e 2023, a população espanhola tem enfrentado subidas de preços repentinas nos supermercados, aluguéis e até mesmo no lazer, o que resulta num aumento significativo do custo de vida. De acordo com a consultoria Ipsos, a maior preocupação dos espanhóis hoje é com o desemprego, que está em 13%. A segunda é com a inflação, 6%. Ainda segundo o relatório, a subida do preço da energia, das matérias-primas e dos alimentos tem pesado no bolso tanto da população quanto das empresas. Aponta-se que tais aumentos se deram devido à guerra na Ucrânia. A taxa de juros está em 3%, o que para os europeus é considerada muito alta, tanto que tem feito aumentar a inadimplência. Tudo isto gera um cenário de incerteza. “Ainda não há consenso sobre se haverá um abrandamento ou uma recessão. E isto dependerá da rapidez com que as políticas monetárias nos Estados Unidos e na Europa continuarem a drenar liquidez da economia e, assim, aumentar as taxas de juros”, adverte o relatório da consultoria. Por outro lado, ainda segundo o relatório, existem áreas que têm dado respostas positivas à recuperação, ou apresentam uma boa previsão de crescimento em 2023. Estas áreas são o turismo, a exportação de bens, o setor imobiliário e o setor automobilístico, sendo que o último deve passar por um aumento de 15% das vendas em comparação a 2022. Embora o PIB do país tenha crescido 5% em 2022, as previsões para este ano são de um crescimento de apenas 1.2%.

O economista Enrique Palacios, chefe da Compliance Officer da Onyze, em entrevista à EuroDicas, ressaltou que o país é considerado muito aberto a imigrantes, com diferentes opções, concedendo visto até mesmo para aposentados, empreendedores e, o mais recente de todos, visto para nômades digitais. Para além de abrigar estrangeiros, todas estas oportunidades também são uma forma de atrair investimento, consumo e mão de obra. “Para a economia de um país, a chegada da imigração preenche esta lacuna e fornece valor. Isto é importante para equilibrar as contas da previdência social, embora haja o risco de aumentar o déficit público se a chegada de imigrantes não for feita de forma equilibrada”, alega o economista.

É diante deste quadro que os espanhóis irão às urnas, em menos de mês, para escolher o seu governante. Vale lembrar que, desde a redemocratização, em 1974, os partidos de direita e de esquerda têm se alternado no poder. A tentativa de interromper esse processo aconteceu em 1981, quando o general Terrero Molina tentou dar um golpe de Estado. A efetiva ação do então rei Juan Carlos foi decisiva na ocasião para a preservação e sequência do regime democrático. E é sob esse regime de liberdade que os espanhóis irão decidir se seguem à esquerda ou se viram para a direita.

Para encerrar, uma conclamação aos espanhóis: que lutem para aliviar o forte racismo que se percebe no país. Vide o episódio Vini Jr.

 


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