Guerra e migrações motivam ampliação da União Europeia

Guerra e migrações motivam ampliação da União Europeia

Algo muito semelhante ao que a Rússia tenta fazer na Ucrânia.

Jurandir Soares

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A invasão da Ucrânia pela Rússia e a ameaça de expansão do regime de Vladimir Putin estão fazendo a União Europeia buscar o seu fortalecimento. E o grupo, que é composto por 27 países, tem reunião nos próximos dias 5 e 6 de outubro, em Granada, na Espanha, para analisar as condições de possíveis novos integrantes. Embora a previsão seja de que mais três países venham a incorporar-se à comunidade, a lista de pretendentes é grande. Estão na fila a própria Ucrânia, sua vizinha Moldávia ou Moldova como também é chamada, Albânia e países que antes formavam a Iugoslávia, que são Bósnia-Herzegovina, Macedônia do Norte, Montenegro, Sérvia e Kosovo, este último não reconhecido pela própria Servia e por vários membros da comunidade, inclusive a Espanha. Outro pretendente é a Geórgia, que, assim como a Ucrânia, tem uma história recente de invasão por parte da Rússia de Putin.

A Geórgia foi alvo de uma invasão russa em 2008, a pretexto de defender separatistas de duas regiões do país: Ossétia do Sul e Abcásia. O país que conseguira sua independência em 1991, com a derrocada da União Soviética, teve que enfrentar as forças russas e aceitar a presença dessas tropas dentro das duas áreas separatistas. Fato que não permitiu a unificação total do país e que o mantém sob ameaça russa. Algo muito semelhante ao que a Rússia tenta fazer na Ucrânia. E é justamente por temor de ser a próxima vítima do tacão de Putin que esses países querem logo debandar para o braço protetor da União Europeia. Sem contar o benefício que representa para seus cidadãos e seus setores produtivos desfrutarem da livre circulação de pessoas, bens e serviços por todos os países integrantes da comunidade. Acrescentando ainda que, num passo seguinte, poderão adotar o euro como moeda, o que hoje é praticado por 20 membros da UE.

A ideia de ampliação da União Europeia é defendida por Alemanha e França, que são os países que têm capitaneado o processo de integração da Europa. Afinal, são dois dos países que mais sofreram as consequências das duas grandes guerras e, por isto, querem a integração como forma de evitar novo conflito. Apesar desta intenção, há um conflito em andamento, envolvendo Ucrânia e Rússia. A secretária-executiva da UE, Ursula von der Leyen, quer acelerar o processo. Ela defende a inclusão de novos membros sem esperar por reformas que estão pretendendo fazer no tratado da organização. Dentro dessas reformas está a política agrícola europeia, objeto de enormes subsídios.

O fato é que nada é fácil de ser resolvido no âmbito da comunidade, especialmente, diante das diferenças em termos de PIB e de poderio econômico entre os países-membros.

E, nos dias de hoje, há outro agravante: as diferentes visões em torno das migrações. Enquanto alguns países, como a Alemanha, abriram suas portas para aqueles que fogem dos conflitos e da fome em países do Oriente Médio e da África, outros, como Hungria, fecharam. Itália recebeu um contingente significativo, porém não quer receber mais. 

Um dos motivos que levou ao Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia – foi justamente a questão migratória. Uma das propostas que está na mesa para a questão migratória é dividir entre os países-membros aqueles que chegam pelo Mediterrâneo. Só que a Itália de Giorgia Meloni, principal ponto de chegada à Europa através do Mediterrâneo, não quer receber mais ninguém. Diz que já deu sua ampla cota e que há outros países que não acolheram ninguém. O que é verdade e mostra as dificuldades para um acordo. Números compartilhados pelo Acnur, o alto comissariado da ONU para refugiados, nesta quinta, mostram que ao menos 186 mil migrantes chegaram ao sul da Europa - por Itália, Grécia, Chipre e Malta - de janeiro até aqui. Destes, 130 mil entraram pela Itália, cifra 83% maior em comparação com o mesmo período do ano anterior. Talvez seja esta questão de alocação dos migrantes que esteve fazendo a UE estar tratando de abrir suas portas a novos membros. Só que a maior parte dos que querem entrar busca é se proteger das garras de Putin.


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