Guerra ficará mais cruel em Gaza

Guerra ficará mais cruel em Gaza

Israel anunciou que vai desenvolver uma invasão por terra a Rafah

Guerra em Gaza completou cinco meses

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A guerra em Gaza completou nesta quinta-feira, 7, cinco meses, desde que os terroristas do Hamas fizeram aquela cruel incursão no território israelense, trucidando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando cerca de outras 300. A partir de então a população de Gaza ficou exposta a uma intensa ação repressiva por parte de Israel, na caçada aos terroristas, mas que, na extensão, está matando um injustificável número de civis, que já passa dos 30 mil, sendo a maioria mulheres e crianças. E o que já está ruim pode piorar nos próximos dias.

O transcurso dos cinco meses de guerra foi antecedido de intensas reuniões no Egito, com interlocutores do Hamas, Catar, Estados Unidos e Israel, sob a mediação do país anfitrião. A expectativa era se conseguir, senão o fim da guerra, pelo menos uma trégua. Nada foi alcançado e, como sempre, uma parte acusando a outra pelo fracasso de um acordo.

O resultado trágico é que Israel anunciou que vai desenvolver uma invasão por terra a Rafah, a partir deste domingo, 10. A escolha da data não poderia ser pior, pois coincide com o início do Ramadã, o mês sagrado dos muçulmanos. E o local a ser atacado nem se fala.

Rafah situa-se na fronteira no sul da Faixa de Gaza, para onde foram empurrados os palestinos. Primeiro, receberam advertências de Israel para deixarem a cidade de Gaza e irem para o norte, porque, depois dos intensos bombardeios realizados, iriam atacar por terra aquela área. Essas comunidades, então, se dirigiram para Khan Yunes, mais ao centro do território.

Algum tempo depois Israel anunciou que atacaria aquela cidade. Novo deslocamento, desta vez para Rafah, na fronteira com o Egito, por onde, quando é possível, chega a ajuda humanitária à população sobrevivente. Como aconteceu com as demais localidades, esta cidade já está sofrendo bombardeios aéreos, mas agora será invadida pelos tanques.

O que se constata é que o governo de Benjamin Netanyahu não atende nem aos apelos do maior aliado de Israel, Estados Unidos. O presidente Joe Biden tem feito insistentes pedidos para que seja estabelecido um cessar-fogo, pois tem manifestado também sua inconformidade com o elevado número de civis que têm sido mortos.

Netanyahu alega que se não atacar Rafah não cumprirá com a parte final de sua missão, que é a de exterminar o Hamas. Poderá fazer isto, mas estará conseguindo uma vitória de Pirro, expressão utilizada para se referir a uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Isto porque, na atual conjuntura, em que os palestinos são cada vez mais discriminados, morrerão os atuais integrantes do Hamas, porém, ali mesmo nessa Gaza que está sendo atacada, surgirão novos seguidores da organização, com a mesma filosofia de destruir Israel.

Ou seja, não há outra solução para o conflito que não seja aquela que hoje é um clamor internacional: a constituição do Estado da Palestina, para conviver ao lado de Israel, com fronteiras definidas. De preferência em colaboração com os investidores das monarquias árabes, conforme já começou a ser estruturado a partir dos chamados Acordos de Abrahão, que foram alinhavados pelo então presidente dos EUA Donald Trump.

Enquanto o que é meio utópico não acontece e o sofrimento na Faixa de Gaza continua, o governo norte-americano se mobiliza para encontrar formas de fazer a ajuda humanitária chegar até o povo palestino. Um povo que, de acordo com os informes dos agentes da ONU que atuam na região, está desesperado de fome.

Isto pode ser percebido pela forma como avançam ao encontro dos paraquedas que são lançados com alimentos, remetidos por países cujos dirigentes se compadeceram com o que acontece em Gaza. Tamanho o desespero que nesta sexta-feira, 8, morreram cinco pessoas e outras dez ficaram feridas, no campo de Al Shati, quando os pacotes de ajuda humanitária caíram sobre elas.

Deu para perceber também no episódio do comboio de alimentos que foi atacado há poucos dias, quando morreram mais de 100 pessoas, no tumulto que se formou. Nesse episódio as forças israelenses foram acusadas de ter atirado contra os civis, o que foi desmentido por Tel Aviv.

Na realidade, o mais provável é que tenha acontecido o que é comum nesse tipo de evento: o tumulto com as pessoas morrendo pisoteadas. Agora, Biden quer até improvisar um porto em Gaza para a chegada de ajuda. Mas isto demanda tempo. E a fome não espera. Assim como urge um fim da guerra para que mais vidas não sejam perdidas. Inclusive de soldados israelenses, cabe lembrar a Netanyahu.


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