Incoerência de Biden e cerco a Trump

Incoerência de Biden e cerco a Trump

As recentes declarações do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chamando o presidente chinês, Xi Jinping, de ditador geraram reações negativas e acusações de provocação.

Jurandir Soares

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, parece estar dando razão aos seus adversários políticos, que o acusam de apresentar problemas mentais. Senão, como justificar que um dia depois de o secretário de Estado, Anthony Blinken, ter se encontrado em Pequim com o presidente chinês, Xi Jinping, em um ato de busca do distensionamento das relações entre os dois países, Biden venha, gratuitamente, chamar Xi de ditador. Que ele é ditador todo mundo sabe. Mas é com esse dirigente de um regime autoritário que os EUA têm que tratar. Biden resolveu invocar justamente a questão de um balão chinês que foi abatido pelas forças norte-americanas, episódio que havia determinado um adiamento de meio ano da ida de Blinken a Pequim. Ao falar do balão, tido como de espionagem, Biden disse que “isso é um grande imbróglio para os ditadores...”. O pronunciamento se dá também justo no momento em que a imprensa estatal chinesa saudou o avanço nas negociações entre os dois países. E também um dia depois de Biden dizer que “as relações entre Estados Unidos e China estão no caminho certo”, ao comentar os resultados dos encontros de Blinken com as autoridades chinesas. E logo depois também de a rede estatal CCTV ter noticiado que Xi falara para o secretário de Estado que “os dois lados fizeram progressos e chegaram a acordos sobre algumas questões específicas”, o que “é muito bom”. “Espero que por meio desta visita, senhor secretário, você faça mais contribuições positivas para estabilizar as relações China-EUA.”

Lógico que a declaração de Biden provocou uma reação chinesa. Mao Ning, porta-voz da chancelaria, descreveu a fala como uma provocação. “O comentário é realmente ridículo, muito irresponsável e não reflete a realidade.” Outro aspecto positivo para os EUA, resultante dos encontros de Blinken em Pequim, foi o fato de ter conseguido, com a reaproximação, afastar a China da Rússia. Lembrando que Xi Jinping é considerado o principal aliado de Vladimir Putin. Pois os russos não perderam tempo e torpedearam Biden. Uma declaração que reflete a política externa “inconsistente e errática” de Washington foi como considerou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Assim é que, enquanto Blinken deu um passo à frente para aliviar as tensões entre as duas grandes potências, Biden deu um passo atrás. Tenho ressaltado que a política dos EUA para com a China, assim como para com a Rússia, não é uma política de governo, mas de Estado. Isto vinha sendo comprovado desde os tempos de Donald Trump, tendo sequência com Biden. Todos os pronunciamentos e ações eram dentro de uma mesma linha. Agora, parece que Biden resolveu agir por conta própria, o que foi um desastre.

Enquanto isto, aquele que seguramente será o seu principal opositor na próxima eleição presidencial, Donald Trump, está se vendo com a Justiça, sob acusação de negligência com documentos oficiais do país. Vale lembrar os diversos volumes que, ao deixar a Casa Branca, levou para sua residência de Mar-a-Lago, na Flórida. Instado pelo FBI, chegou a devolver alguns volumes. Porém, os investigadores acreditavam que havia mais. Foram até a Florida e arrancaram mais 15 volumes. O início do seu julgamento foi marcado para 14 de agosto. Agora, o curioso é que, quanto mais acusações fazem contra Trump – e o elenco é grande –, mais ele cresce nas pesquisas de opinião. 

Quem se alçou como seu principal opositor no Partido Republicano foi o governador conservador da Florida, Ron DeSantis. Pois as pesquisas apontam que, enquanto este desafiante tem 23% da preferência do eleitorado, Trump alcança 61% do eleitorado republicano. Os outros postulantes, como o ex-vice-presidente de Trump, Mike Pence, têm menos que DeSantis. As mesmas pesquisas indicam que Biden e Trump estão empatados, com 41% de preferência cada um. Porém, o atual descompasso de Biden no trato de uma das principais questões de política externa do país poderá fazer a balança começar a reverter em favor do republicano. Trump só não será candidato se antes das eleições ele for condenado por algum dos delitos a ponto de ser preso. O que é pouco provável. 


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