Intolerância x intolerância

Intolerância x intolerância

Quem viu a série televisiva “Fauda” já vai entender o título desta coluna.

Jurandir Soares

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Esta série, cuja tradução do árabe é “Caos”, distribuída pela Netflix, mostra com muita clareza o que é o conflito palestino-israelense. Trata-se, em resumo, de atentado sendo respondido com outro atentado, numa absoluta sequência de intolerância por ambas as partes. Sempre um procurando ser mais cruel que o outro. E é isto o que estamos presenciando agora no confronto entre Israel e Hamas, que, nesta quarta-feira (7) completou quatro meses. Seu início se deu com o covarde ataque do Hamas em território israelense, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando outras 240, muitas das quais ainda estão em poder da organização terrorista. Neste episódio é preciso destacar a injustificável falha do sistema de vigilância de Israel, permitindo tal acontecimento, assim como também deve ser criticada a demora da reação das forças de segurança. Questões que serão cobrados do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu após o término do conflito. A reação de Israel foi plenamente justificável, porém, já falha em seu objetivo: exterminar com o Hamas. Sabe-se que podem ser mortos todos os atuais integrantes da organização, porém, a mesma não morre. Sempre surgirão outros seguidores da ideia. Ainda mais diante do que está acontecendo em Gaza com a reação israelense. Uma reação dentro do espírito da Fauda.

A reação israelense está tão exagerada que levou o governo do principal aliado do país, os Estados Unidos, a pedir uma trégua para interromper o desastre humanitário que está acontecendo em Gaza, onde, segundo os informes, já morreram mais de 25 mil cidadãos palestinos. Em sua maioria mulheres e crianças. Os 2,2 milhões de palestinos residentes de Gaza estavam sob o domínio do Hamas. Da mesma forma como acontece em nossas favelas, onde a população trabalhadora fica refém dos narcotraficantes. É certo que uma parcela apoiava o grupo terrorista, porém a maior parte não. Era subjugada. Porém, com os ataques que Israel vem realizando contra essa população, é mais do que certo que cresceu nela o ódio contra os seus agressores. E também é certo que surgirão ali outros pequenos seguidores do Hamas.

Vejam que Israel atacou inicialmente a cidade de Gaza, tendo antes mandado que a população civil fugisse para o centro do território. Assim, a maior parte se deslocou, como pôde, para Khan Yunis, que fica no centro do território chamado Faixa de Gaza. Após aniquilar Gaza, Israel anunciou que iria atacar Khan Yunis, obrigando a população mais uma vez a um deslocamento, desta vez para o ponto extremo do território, a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito. Agora vem a informação de que o ataque se dará em Rafah. Daí a manifestação do presidente Joe Biden, pedindo para ser evitado um desastre humanitário, para uma população que já está carente de alimentos, água, medicamentos, etc. Uma manifestação compartilhada por grande parte da comunidade internacional.

Um comunicado do gabinete de Netanyahu, publicado nesta sexta-feira à tarde, diz: É impossível alcançar o objetivo da guerra de eliminar o Hamas, deixando quatro batalhões do Hamas em Rafah”. Salienta ainda a necessidade dos civis de se afastarem das zonas de combate, como se isto fosse possível para uma população que está sendo encurralada dentro de seu minúsculo território, tentando escapar dos bombardeios. Assim, o que se pode vislumbrar será a morte de mais um elevado número de civis e a eliminação dos quatro batalhões do Hamas. Porém, se antes do ataque israelense, uma boa parte da população de Gaza não apoiava o Hamas, agora, diante do ódio gerado pelos ataques de Israel, irá apoiá-lo. Com isto, cresce o Hamas, que prega a destruição de Israel, e fica enfraquecido o Fatah, sediado na Cisjordânia, que batalha por um acordo que resulte em dois estados, Israel e Palestina, vivendo lado a lado, com fronteiras definidas. Em resumo, segue predominando a lógica da Fauda.


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