Israel financiando o Hamas?

Israel financiando o Hamas?

Netanyahu é contra a paz

Jurandir Soares

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Que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, não quer a solução de dois estados – Israel e Palestina – isto não é novidade. Na semana que passou ele voltou a referendar esta posição para o presidente do maior aliado de Israel, os Estados Unidos, de Joe Biden. Assunto abordado na coluna de sábado (20) com o título “Netanyahu é contra a paz”. Porém, o surpreendente é a bombástica afirmação do responsável pela política externa da União Europeia, Josep Borrell, que acusou Israel de “financiar o Hamas para enfraquecer a Autoridade Palestina liderada pelo Fatah". A informação foi divulgada pela Euronews.

O texto diz que o diplomata não forneceu provas concretas para apoiar a sua afirmação explosiva. E que em comentários mordazes proferidos durante um discurso na Universidade de Valladolid, na Espanha, Borrell também acusou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de fazer descarrilar “pessoalmente” qualquer tentativa de resolver o conflito israel-palestino que dura há décadas. “A má notícia é que Israel, em particular o seu governo, se recusa completamente, e ontem Netanyahu voltou a dizê-lo, como se estivesse a antecipar as minhas palavras de hoje, a aceitar uma solução (de dois estados) que ele próprio tem boicotado nos últimos 30 anos”, afirmou Borrell.

As suas palavras claras foram proferidas apenas um dia depois de Netanyahu ter rejeitado os apelos de Washington para a criação de um estado palestino após a guerra e para a redução da ofensiva militar de Israel em Gaza. “Acreditamos que uma solução de dois estados deve ser imposta do exterior para trazer a paz”, explicou Borrell. “Mas, insisto, Israel, ao continuar a rejeitar esta solução, chegou ao ponto de criar o próprio Hamas. Sim, o Hamas tem sido financiado pelo governo israelense para tentar minar a Autoridade Palestina do Fatah”, acrescentou ele, segundo a Euronews. O Fatah é o grupo palestino moderado, estabelecido na Cisjordânia, que preside a ANP e que já se manifestou que aceita a existência de Israel em troca do reconhecimento de seu estado. A chamada solução de dois estados, que permitiria aos palestinos a criação de seu estado, é um dos princípios necessários nas visões europeias e ocidentais em geral para uma Gaza pós-guerra. Borrell já descreveu a solução dos dois estados como a “melhor garantia de segurança” de Israel, conclui o texto da Euronews.

Já nesta segunda-feira (22) o jornal El País, da Espanha, noticiou que os ministros de Relações Exteriores da União Europeia iniciaram a análise de um plano de paz integral que foi posto sobre a mesa justo pelo encarregado de política externa do bloco, Josep Borrell. A informação é de que, diante da crescente pressão internacional sobre Israel a União Europeia não quer ser apenas um a mais a palpitar sobre a questão. Quer ser protagonista, pois já programou reuniões com os chanceleres de Israel e da Autoridade Palestina, assim como representantes de países chaves da região para analisar o documento que elaborou. Seria uma reunião preparatória para sentar as bases para uma negociação definitiva para a solução de dois estados. Trata-se de um plano de 12 pontos para “a solução de dois estados que vivam lado a lado em paz e segurança. Temos que deixar de falar em processo de paz e tratar de definir concretamente em dois Estados.”

Inquestionavelmente, há muito que defensores da paz e da convivência pacífica entre os povos defendem a solução de dois estados. Afinal, hoje os palestinos, em sua maior parte, vivem sob a ocupação militar israelense. Fato que, segundo reportagem da BBC Brasil, os faz sentirem-se cidadãos de segunda classe. Sem perspectiva de futuro. E é justamente esta situação que impulsiona muitos desses jovens para o terrorismo. Além do mais, o que se está vendo a partir dos acontecimentos de Gaza é uma expansão do conflito, já tendo envolvido o Hezbollah, que a partir do Sul do Líbano tem bombardeado Israel. Porém, surgiu um novo e mais perigoso ator, o grupo dos houthis, estabelecidos no Iêmen, que têm atacado a navegação comercial no Mar Vermelho. Criaram não só mais uma frente de confrontação, como também um enorme problema para o comércio internacional.

E o que é pior, esses houthis têm planos para atacar em três estratégicos pontos de conexão marítima, o que será assunto para outra coluna.

Cabe destacar ainda que um país que poderá ter um papel relevante no apoio à proposta da União Europeia é a Arábia Saudita. Isto porque o reino saudita está num processo de negociação de paz com Israel e tem condicionado o avanço do mesmo a uma solução para o problema palestino. Na extensão dos chamados Acordos de Abrahão, costurados pelo então presidente dos EUA Donald Trump e que resultaram no estabelecimento de laços de Israel com Emirados Árabes Unidos, Barhein, Sudão e Marrocos, está o acordo com Riad, o mais importante país árabe. Ah! E não se pode esquecer que, para que o processo avance, é preciso que apareça em Israel um novo governante que venha a substituir o radical e desgastado Netanyahu.


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