Lembrar para não se repetir

Lembrar para não se repetir

"Lembranças de uma História Nefasta que nos Advertem sobre os Perigos do Passado e do Presente"

Jurandir Soares

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A data desta segunda-feira, 11 de setembro, trouxe à lembrança dois fatos nefastos da nossa história recente, que não podem se repetir: o golpe de Estado no Chile, em 1973, e os atentados da Al Qaeda nos Estados Unidos, em 2001. No Chile, vivia-se sob o governo socialista de Salvador Allende, que estava afundando o país. O Estado tomara conta da economia e o empresariado e o povo definhavam. Mas um governo que fora eleito democraticamente. Com o que caberia destituí-lo através do voto. O mundo, porém, vivia o período da Guerra Fria, a confrontação entre o Leste comunista, capitaneado pela então União Soviética, e o Oeste capitalista, comandado pelos Estados Unidos. O que, evidentemente, resultou num apoio velado de Washington ao movimento golpista. Aliás, golpe militar à época não era novidade. Já havia acontecido no Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e outros países da região.

O golpe no Chile, com ataque ao palácio de La Moneda, levou ao suicídio o presidente Allende, instalando-se ali uma nefasta ditadura que perseguiu prendeu e matou opositores. Porém, ao lembrar essas atrocidades, é importante lembrar também outra ditadura que se instalara na América Latina, um pouco antes, em 1959, em Cuba. E tal como a ditadura capitalista instalada no Chile, a ditadura comunista cubana também torturou e matou opositores. Se no Chile o estádio nacional de Santiago ficou marcado como o local para onde os presos eram inicialmente levados, em Cuba “el paredón” celebrizou-se como o local de execução dos opositores. É importante lembrar isto porque a esquerda latina costuma fazer críticas contundentes às ditaduras de direita na região e, ao mesmo tempo, glamuriza o regime cubano. Além disto, é bom lembrar que no Chile a ditadura acabou em 1990 e hoje o país é governado por um regime de esquerda, democraticamente eleito. Em Cuba, segue a ditadura com regime de partido único. Feita a contextualização, cumpre deplorar mais uma vez o golpe no Chile, assim como todos os ocorridos na América Latina ao tempo da Guerra Fria.

Já no 11 de setembro de 2001 o mundo conheceu um novo e mais nefasto tipo de terrorismo, o qual transformou aviões de carreira em armas letais. Até então o que se tinha era o homem-bomba, que se explodia em determinado lugar. Ali tivemos 19 terroristas que fizeram ruir as Torres Gêmeas, com o choque alternado de dois aviões, matando quase três mil pessoas. Outro avião atingiu uma ponta do Pentágono e o quarto, que deveria ser jogado contra a Casa Branca, acabou caindo na Pensilvânia, segundo consta, por uma ação dos passageiros que entraram em luta corporal com os sequestradores.

Desde então as viagens de avião não foram mais as mesmas. Drásticas medidas de segurança passaram a ser implantadas para que episódios semelhantes não acontecessem. Na extensão dos ataques, o então presidente, George W. Bush, decretou uma “guerra ao terror”. E esta, inicialmente, foi desencadeada no lugar certo: no Afeganistão, dominado pelo nefasto regime do Talibã, que dera guarida para Osama Bin Laden, o autor intelectual dos atentados, e seus asseclas da Al Qaeda. Esta ação teve início em março de 2002. Em cerca de um ano os EUA tiraram o Talibã do poder, fizeram a Al Qaeda refugiar-se no interior do país e não conseguiram encontrar Bin Laden. Com o trabalho inconcluso, Bush resolveu se voltar para o Iraque. Atacou e destruiu o país em nome de armas de destruição em massa que nunca foram encontradas. Na realidade, estava atuando em nome de corporações como a das armas e a do petróleo, cujo expoente era o seu então vice-presidente, Dick Cheney.

Resultado: no Afeganistão o Talibã recuperou o poder, a Al Qaeda seguiu praticando seus atentados e Bin Laden só foi encontrado e eliminado dez anos depois, sob o governo de Barack Obama, cujos serviços secretos o caçaram no interior do Paquistão. Já o Iraque foi destruído e acabou sendo território do Estado Islâmico, organização mais nefasta do que a Al Qaeda. A eliminação do Estado Islâmico, que criara um califado em terras do Iraque e da Síria, só se deu por uma ação que envolveu, de um lado, forças russas e iranianas e, de outro, forças norte-americanas e sauditas. Embora ditaduras e organizações terroristas ainda persistam, estas hoje são em menor número do que na época dos dois acontecimentos tema desta matéria. Todavia, está aí um país dito democrático, a Rússia, mas que não passa de uma ditadura comandada por um lunático, Vladimir Putin, que se arvorou no direito de invadir um país vizinho, a Ucrânia, para tomar parte de seu território. Ou seja, o mundo segue convulsionado e daqui a algum tempo vamos ter que pedir que ações como essa de Putin não se repitam.


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