Lula no palco da ONU

Lula no palco da ONU

Afinal, concorrentes de peso como os governantes da China, Rússia, Reino Unido e Índia não estarão presentes.

Jurandir Soares

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Seguindo uma tradição instituída desde a realização da primeira Assembleia Geral da ONU, em 1946, o presidente do Brasil abre nesta terça-feira o encontro anual da organização. Como tal, caberá ao presidente Lula fazer este pronunciamento que, felizmente, será escrito pela diplomacia brasileira. Ressalto isto porque cada vez que o presidente fala de improviso é um desastre. Mas Lula elegeu para este mandato ser um ator internacional, deixando as questões internas do Brasil para o vice, Geraldo Alckmin, e para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. E para isto o gasto não tem sido pouco. Segundo revelou a Folha de S. Paulo na sua edição desta segunda-feira, Lula já gastou no cartão corporativo mais do que Bolsonaro, Temer e Dilma juntos. A conta paga pelos brasileiros já chega a R$ 8 milhões.

Mas na ONU Lula terá um palco para brilhar. Afinal, concorrentes de peso como os governantes da China, Rússia, Reino Unido e Índia não estarão presentes. A única figura do alto escalão mundial que se fará presente é o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Com quem, aliás, Lula deverá ter um encontro nesta quarta-feira à tarde, quando assinarão um pacto sobre trabalho decente, na presença de líderes sindicais e da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Uma oportunidade para Lula buscar tornar um pouco menos frias as relações com os Estados Unidos. O que não será muito fácil pelas posições que o brasileiro vem demonstrando em todos seus contatos e pronunciamentos pelo mundo. Aliás, já em outro encontro entre ambos não rolou muita química. Só que Lula não pode esquecer que os Estados Unidos são historicamente nosso maior parceiro comercial. Agora, na sua passagem por Cuba, Lula resolveu criticar o embargo norte-americano a Cuba, dizendo que este é ilegal. Outra falácia. Um país é livre para negociar com quem quiser. E os EUA não negociam com Cuba por não aceitarem o regime ali estabelecido. O que não quer dizer que Cuba não possa negociar com outros países.

O Brasil, ao longo dos governos petistas, tem defendido a sua inclusão como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Uma vã tentativa, tendo em vista que as cinco potências que desfrutam desta condição – EUA, Rússia, China, França e Reino Unido – não só não abrem mão de sua prerrogativa, como também não querem saber de ampliação do Conselho. Mas Lula tem uma outra pauta a apresentar, que não se distancia muito desta, que é a mudança do sistema de governança mundial. Bem, uma governança mundial propriamente dita não existe. O que existe são organismos que buscam, dentro de suas limitações, colocar as relações internacionais em ordem. E o principal destes é a própria ONU. Como três dos cinco integrantes do Conselho de Segurança nem estarão presentes ao encontro, a proposta de Lula tende ao esvaziamento.

O que pode prosperar e isto certamente Lula irá apresentar é o tema sobre a preservação do meio ambiente, assim como o do uso de energias limpas. Temas em que o Brasil tem posição relevante. Tudo inserido dentro do contexto da diminuição das emissões de CO2 e, por consequência, do controle do aquecimento global. Sempre será importante ressaltar a soberania do Brasil sobre a Amazônia. 

Segundo transpirou, Lula deverá também falar a respeito da guerra na Ucrânia. Aí já mora o perigo. Espera-se que o Itamaraty seja cuidadoso no que escrever para que Lula não repita os foras que já deu quando falou sobre aquele conflito. Aliás, sobre este tema Lula terá oportunidade de falar diretamente com o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pois, segundo foi anunciado, ambos terão um encontro nesta quarta-feira à tarde. E aí mora um perigo ainda maior. Enfim, o palco de Nova Iorque está montado e Lula estará como gosta: no centro das atenções. O problema continua sendo quando fala de improviso. 


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