Maduro imita Putin

Maduro imita Putin

O regime na Venezuela quer ir derrubando um a um os opositores

Correio do Povo

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Depois de muita pressão internacional, o ditador da Venezuela Nicolás Maduro aceitou marcar eleições presidenciais para o dia 28 de julho. Seria a exitosa culminação de uma reunião realizada em Barbados, no ano passado, quando, sob a mediação da Noruega, governo e oposição acertaram a realização do pleito. Em função disto, os Estados Unidos chegaram a levantar algumas das sanções que impuseram ao país. Seria, porque desde então o ditador só vem colocando entraves. Primeiro, ameaçou suspender o pleito por um suposto plano para assassiná-lo, sobre o qual não se conseguiu arrancar nada. Depois, veio com suas ações de modo a eliminar da concorrência a principal figura da oposição, María Corina Machado. Mobilizou seus asseclas do Conselho Nacional Eleitoral para declarar a suspensão dos direitos políticos da candidata por 15 anos. Tudo porque ela cometeu o “crime” de denunciar à Corte de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos as violações cometidas pelo governo durante uma manifestação de opositores ao regime. No ato, realizado em 2017, resultaram mortos 103 manifestantes, em sua maioria, jovens na faixa dos 30 anos.

María Corina vencera as prévias da oposição e as pesquisas vinham indicando-a como favorita para vencer o pleito. E grande favorita, na base de 70% de votos a favor, contra 15 a 20% de Maduro. Daí todo o esforço da ditadura para afastá-la da corrida. E como se não bastasse inviabilizar sua candidatura, passou a perseguir e prender os apoiadores da mesma. Nesta quinta-feira, 14 apoiadores de María Corina foram indiciados pelo Ministério Público por “ações desestabilizadoras”. A metade deles já está na cadeia, enquanto a outra metade é alvo de mandados de prisão. Foi para a cadeia até aquela que é o “braço direito” de María Corina, Magali Meda, que seria um dos possíveis nomes para substituí-la no pleito. Seu mandato de prisão foi emitido sob acusação de “planejamento de ações desestabilizadoras”. Seu “crime” foi ter escrito nas redes sociais que “o regime age a partir da mentira e da repressão. Hoje, nosso país avança junto com sua gente decente que somos absolutamente a maioria. A liberdade da Venezuela vem em eleições livres com María Corina Machado nos guiando”. Este foi o “crime” que ela cometeu para ser presa.

A falta de democracia na Venezuela não é novidade. A não ser para o presidente Lula que, em reunião em Brasília, no ano passado, com presidentes sul-americanos, tentou apresentar Maduro como vítima de uma narrativa. Algo que foi rechaçado pelos presentes que, inclusive, se negaram a participar do jantar de encerramento do encontro. Naquela ocasião, um presidente de esquerda, Gabriel Boric, do Chile, foi enfático ao dizer que a Venezuela não é uma democracia. Pois agora, diante das arbitrárias prisões de opositores, outro presidente de esquerda da região se manifesta. É Gustavo Petro, da Colômbia. Aliás, o primeiro governante de esquerda da história do país. Em nota, o governo manifestou sua “preocupação” com o processo eleitoral venezuelano, lembrando “a importância do cumprimento do Acordo de Barbados”.

Então, o que se percebe é que o regime quer ir derrubando um a um os opositores de maior expressão, fazendo com que a oposição fique num embrete: coloca um candidato sem expressão, fadado a perder a eleição, ou não concorre e deixa Maduro se legitimar por mais seis anos? E o detalhe: o período para o registro de candidaturas começou nesta quinta-feira, 21, e se estende somente até esta segunda, 25. Ou seja, é para ralar mesmo a oposição. Sentindo o embrete da oposição, líderes distanciados da oposição tradicional, mas colaboradores do chavismo, já trataram de aproveitar o primeiro dia de inscrição para colocar seus nomes na lista do Conselho Nacional Eleitoral. Dentre estes estão Luiz Eduardo Martinez, de uma ala do tradicional partido Ação Democrática, e Daniel Ceballos, um ex-prefeito. Ceballos disse a jornalistas que estava na espera da inscrição de María Corina, mas, como esta está inabilitada, colocou seu nome à disposição. A candidata barrada denunciou ainda nesta sexta-feira que os partidos que a apoiam não conseguiram entrar no sistema de inscrição. Ou seja, Nicolás Maduro aprendeu com o seu colega russo Vladimir Putin. Afasta os possíveis concorrentes e facilita a inscrição de candidatos fantoches. Esta é a democracia da Venezuela.


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