Monarquia britânica segue em alta

Monarquia britânica segue em alta

Daí o desafio que se apresenta para Charles III no sentido de preservar este culto à monarquia.

Jurandir Soares

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No momento em que o rei Charles III é coroado na Inglaterra, mais uma vez, em meio à pompa, surgem os questionamentos sobre a manutenção ou não da monarquia britânica. A propósito, a BBC encomendou uma pesquisa para o instituto YouGov e o resultado apontou que 58% preferem ter um rei como chefe de Estado, contra 26% que preferem uma pessoa eleita. Ou seja, mais um amplo apoio à monarquia, que já experimentou recentemente mais um teste de popularidade, com a comoção vivida pela população com os atos fúnebres da rainha Elizabeth II, em setembro. Filas em Londres que se estenderam por mais de seis quilômetros, desde o palácio de Westminster, onde estava o caixão, ao longo do rio Tâmisa, passando da Torre de Londres. Mais de doze horas de espera para poder passar defronte do caixão. Buquês de flores serpentearam pelo Hyde Park. Tudo isto se deveu em grande parte ao carisma de Elizabeth II, a soberana mais longeva no trono britânico. 

Daí o desafio que se apresenta para Charles III no sentido de preservar este culto à monarquia. Tarefa difícil para quem não tem o carisma da mãe. Mas que vem se conduzindo bem, pois se preparou durante muito tempo para isto. Porém, deve se defrontar com crescentes problemas que vem abalando a unidade do Reino Unido. Problemas estes que se acentuaram com o Brexit, a saída do RU da União Europeia. Tudo que chegava sem imposto dos demais países europeus, agora é taxado. Na Escócia, que votou pelo não à saída, cresce o movimento separatista. Já está em organização outro plebiscito para que a população se manifeste sobre a permanência ou não como membro do Reino Unido. Já os defensores do Brexit dizem que agora as decisões envolvendo os britânicos são tomadas em Londres e não mais em Bruxelas.

Mas na Irlanda do Norte o problema é mais grave. O Brexit reabriu uma ferida que fora cicatrizada depois de muitos anos de lutas entre católicos, defensores da união do território à República da Irlanda, e protestantes que querem a manutenção do presente status quo. Não é sem razão que, tão pronto assumiu, Charles III tratou de visitar aquela área do reino. O que ocorre é que a República da Irlanda é uma ilha e na sua formação original era composta por 32 condados e uma população majoritariamente católica. Pertencia ao Reino Unido. Quando desenvolveu seu movimento de independência, Londres tratou de povoar com protestantes uma área de seis condados ao norte da ilha. Assim, concedeu a independência à Irlanda, mas a apenas 26 condados, conservando os seis restantes que chamou de Irlanda do Norte. Ao longo de muitos anos foi mantida uma luta cruel entre as duas partes, a qual só acabou com o chamado “Acordo da Sexta-feira Santa”, assinado em abril de 1998. A rainha Elizabeth II foi parte importante para a pacificação. O Brexit trouxe de volta a fronteira alfandegária que havia sido eliminada com a adesão à União Europeia. Este é mais um dos desafios para Charles III.

Quanto aos questionamentos sobre a monarquia. Especialmente, sobre seu custo e sua utilidade, é bom saber que a monarquia na Grã-Bretanha é lucrativa. Basta acompanhar o seguinte: o Parlamento destina todo ano o equivalente a 20 milhões de reais para o rei manter-se e manter todo o patrimônio real. Acontece que, segundo a revista Forbes, o monarca herdou de sua mãe um total de 600 milhões de libras, o equivalente a 3,6 milhões de reais. Inclui castelos, joias, obras de arte, selos raros, entre outros. Passou também a supervisionar instituições que administram cerca de 42 bilhões de libras em ativos, incluindo alguns dos palácios reais mais famosos do mundo, como o de Buckingham. Ou seja, dinheiro que vai para os cofres do Estado.

Daí o fato de a monarquia dar lucro para o país. E com isto os britânicos não têm o que contestar dessa tradição e, muito menos, de tudo o que ela representa para o país de prestígio, de atração turística e, por extensão, de renda. Basta observar apenas o número de pessoas que se aglomera diariamente defronte ao Palácio de Buckingham para acompanhar a troca da guarda real. Isto em dias comuns.

Em eventos como o de hoje, milhões de pessoas irão se acotovelar pelas ruas de Londres para ver a carruagem real passar. Milhões de pessoas pelo mundo estarão acompanhando as cerimônias pela televisão. E para corroborar, cerca de uma centena de chefes de Estado ou de Governo estará presente ao ato.


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