Novo ano, nova guerra

Novo ano, nova guerra

Enquanto 2024 se inicia, o mundo enfrenta grandes guerras em andamento e a ameaça de um conflito mais perigoso.

Jurandir Soares

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O ano de 2024 começa com duas grandes guerras em andamento e sob a ameaça de uma nova e mais perigosa conflagração. As guerras envolvendo Rússia e Ucrânia e Israel contra o Hamas não têm perspectiva de terminar no curto prazo e a ameaça de nova e mais perigosa guerra vem da Coreia do Norte, cujo ditador Kim Jong-un é uma das pessoas menos confiáveis do planeta. Pois, ao término de 2023, ele fez esta ameaça em alto e bom som. Ao encerrar reunião de cinco dias do partido governante, Kim disse que “a guerra está se tornando inevitável” e culpou os Estados Unidos por esta possibilidade. E, segundo a agência de notícias estatal KCNA, Kim ordenou que o Exército se preparasse para "pacificar todo o território da Coreia do Sul”, inclusive com bombas nucleares, se necessário, em resposta a qualquer ataque. Ou seja, mais uma vez se ouve um ditador falar no uso de armas nucleares. Primeiro foi o russo Vladimir Putin ao sentir a reação do Ocidente diante da invasão que perpetrou na Ucrânia. Uma ameaça que, embora remota, ainda paira no ar tendo em vista que a guerra ainda se estende. Agora vem a ameaça de um ditador que, quando fala, a plateia, seja de civis ou de militares, o aplaude frenética e harmonicamente.

Kim dirige um dos países mais pobres e mais fechados do mundo, mas que gasta bilhões em armamentos de última geração. Frequentemente, um míssil de longo alcance é lançado do território norte-coreano, passando ameaçadoramente sobre o território do Japão, indo cair no mar. São esses testes com dispositivos com capacidade de carregar ogivas nucleares que tem feito com que os vizinhos Japão e Coreia do Sul recorram aos EUA para a realização de manobras militares conjuntas. Washington inclusive aumentou os exercícios militares com submarinos e porta-aviões, perto da península coreana. Kim disse que o retorno de tais armas transformou a Coreia do Sul em uma "base militar avançada e arsenal nuclear" dos EUA. Assim, estamos diante daquela situação em que a ação de um leva à reação de outro, com o clima beligerante aumentando.

Situação lamentável posto que, pouco tempo atrás, criara-se a expectativa de paz na região, com uma convivência harmônica entre as duas Coreias, assim como com o Japão e os EUA. Basta lembrar o encontro mantido na fronteira desmilitarizada das duas Coreias entre Kim Jong-un e o então presidente dos EUA Donald Trump. Era a sequência das ações de reaproximação que tiveram impulso em abril de 2018, com o encontro entre os presidentes da Coreia do Norte, Kim Jong-un, e da Coreia do Sul, Moon Jae-in. E ganharam força com o discurso de Kim Jong-un, feito na passagem daquele ano, quando disse para o presidente dos EUA, Donald Trump, que ainda tinha o botão nuclear à sua frente, mas que mandava uma mensagem de paz aos que chamou de “Irmãos do Sul”. A partir dali começou um processo de distensão, cujo ponto alto foi a participação de uma delegação conjunta das Coreias nos Jogos Olímpicos de Inverno. O fato emocionou o mundo, assim como um encontro de famílias do Norte e do Sul que estavam separadas desde que se estabeleceu a divisão do país, há 70 anos.

Passou-se então a falar na desnuclearização da Coreia do Norte e na reunificação dos dois países. Bem, aí começaram os grandes obstáculos. Kim iria aceitar o desmantelamento total de seu arsenal como querem os EUA? O que ele demonstrou aceitar foi um congelamento no atual programa. Os EUA iriam aceitar o fim das manobras militares que realiza na região com a Coreia do Sul e Japão? Estes pontos foram alvo de negociações que nunca avançaram. E tudo voltou à estaca zero em fevereiro de 2019, na cúpula de Hanói, quando Donald Trump e Kim Jong-un se separaram sob o mais espalhafatoso desacordo. Desde então se intensificaram os testes nucleares da Coreia do Norte assim como as manobras militares dos EUA com os seus parceiros da região. Diante disto, Kim aproveitou para reforçar os laços do seu país com os dois principais oponentes do Ocidente: a China e a Rússia. Em julho do ano passado, Kim comemorou os 70 anos do armistício entre as duas Coreias exibindo mísseis balísticos para o ministro da Defesa da Rússia Serguei Shoigu. Ou seja, retrocesso total no que toca à reaproximação e avanço acentuado quanto à ameaça de guerra, na qual a possibilidade de uso de arma nuclear é maior por parte de Kim do que tem sido pelo lado de Putin. O que dá um certo alívio é que Kim deve saber que, se atrever-se a um confronto nuclear, não sobrará nada de seu país.


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