O atentado na França e os imigrantes

O atentado na França e os imigrantes

O atentado em Annecy reacende o debate sobre refugiados na Europa e fortalece movimentos anti-imigração.

Jurandir Soares

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O atentado ocorrido nesta quinta-feira, em um parque de Annecy, nos Alpes Franceses, onde um sírio feriu com uma faca seis pessoas, sendo quatro delas crianças, trouxe de volta e com força a questão dos refugiados na Europa. E lógico, muito em especial na França, palco de muitos acontecimentos nefastos, perpetrados por pessoas que vêm de outros países e buscam refúgio no país. De um modo geral os atos terroristas praticados na Europa têm por executores adeptos do Islamismo. Vide os atentados ao jornal satírico Charlie Hebdo e à casa de shows Bataclan, ambos em 2015. O sírio de 32 anos, do atentado desta quinta, já tinha recebido o status de refugiado na Suécia, ocasião em que se declarou “cristão da Síria”.

Uma das questões fundamentais que é colocada diz respeito ao fato desses imigrantes adeptos do Islã não aceitarem a cultura e as leis do país que os recebe. E isto vai desde a insistência dos pais em fazer com que as filhas usem o véu islâmico em sala de aula, chegando até o extremismo da ação no Charlie Hebdo, quando três homens invadiram a redação do jornal e mataram 13 pessoas que ali trabalhavam, pelo fato de o veículo ter publicado charges satíricas sobre Maomé. Muitos outros atentados aconteceram tanto na França, como na Inglaterra, Alemanha e outros países, sempre como tema de fundo a mesma questão.

Isto fez com que surgisse em vários países, mas na França especialmente movimento se contrapondo à imigração. O presente caso dos Alpes, embora não tenha sido classificado como ato terrorista, gerou choque, horror e o que já está sendo chamado de Francocídio, dando munição à proposta da Direita de endurecer as leis de imigração. Um pensamento que ganhou apoio até do presidente Emmanuel Macron, que, em maio último, defendeu a tese da “descivilização da França”. A retórica presidencial foi lida como uma referência não ao conceito do sociólogo alemão Norbert Elias, mas às ideias do teórico Renaud Camus, autor da teoria segundo a qual os franceses estariam à beira de uma “grande substituição” por imigrantes, em especial aqueles de origem muçulmana. E isto pode ser constatado pelo elevado número de imigrantes que tem chegado ao país ao longo dos anos 2000, fugindo das guerras na Síria, no Iraque, Afeganistão, Iêmen e de países da África. Na sua quase totalidade, muçulmanos. E o detalhe: a média da natalidade das mulheres muçulmanas é de quatro a cinco vezes maior que a das francesas natas. Outros problemas decorrentes, o desemprego e a violência. Andar pelos bairros de Paris é deparar-se com levas e levas de pessoas perambulando pelas ruas, sem ter o que fazer.

A questão referente ao recebimento de imigrantes nunca foi uma unanimidade na Europa. Pelo contrário, enquanto alguns países como França e Alemanha abriram suas fronteiras, outros como Hungria e Polônia as fecharam. A Hungria chegou até a colocar cerca de arame farpado para impedir o ingresso em seu território.

Um dos motivos do Reino Unido ter saído da União Europeia foi justamente essa obrigação que estava sendo imposta aos países membros quanto à cota para recebimento de imigrantes. A Itália, o principal ponto de chegada de imigrantes pelo mar, resolveu radicalizar sob o governo de direita de Georgia Meloni. E ela usa um argumento contundente. Só neste ano, até abril, o país recebeu 26.800 imigrantes irregulares. Isto fez com que, no debate realizado nesta semana em Luxemburgo sobre a imigração, a Comissão Europeia levasse em consideração a posição de Meloni.

Nesta sexta-feira foi anunciado que os países membros chegaram a um acordo sobre o tema. Mas o que foi acertado parece muito incipiente, até porque Hungria e Polônia mantiveram sua posição de não receber. O que os representantes dos 27 países acertaram foi a divisão dos refugiados entre seus membros, de forma igualitária, respeitando a proporcionalidade de população e PIB. Aqueles que rechaçam o acordo terão que contribuir com uma cesta de solidariedade comum, com 20 mil euros para cada imigrante não recebido. O objetivo é criar um fundo de 600 milhões de euros ao ano com esses aportes. O assunto irá ao Parlamento Europeu para análise e aprovação. No entanto, isto não esmorecerá o crescente movimento anti-imigratório que aflorou na Europa.


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