O eterno conflito recrudesce

O eterno conflito recrudesce

No conflito entre Israel e Palestina, ódio gera ódio

Jurandir Soares

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Com 30 cadáveres de palestinos e nove de israelenses em menos de um mês, o ano de 2023 se encaminha para superar o balanço de 2022, que já foi um dos mais sangrentos dos últimos tempos. Ações de um lado, reações de outro, sempre com vingança, conforme é muito bem retratado na série televisiva Fauda. Adolescentes palestinos têm sido autores de atentados em Israel, o que tem feito com que autoridades israelenses tomem decisões no mínimo controversas, como destruir as casas dos autores dos atentados, com a possibilidade de privá-los da previdência social e com o confisco de suas identidades. É ódio gerando ódio. Em meio a esta intensificação do conflito, o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, chegou a Israel buscando acalmar os ânimos. E falando no sempre tão almejado acordo de paz, que possa dar segurança para Israel e um território para os palestinos.

A propósito, desde que começaram a ser impulsionados os chamados “Acordos de Abrahão”, projetados pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump, visando a paz de Israel com países árabes, a questão palestina pareceu ter ficado de lado. Foram muito saudadas as alianças de Israel com Emirados Árabes Unidos, Barhein, Marrocos e Sudão, que foram alvo de acordos formais. Houve também uma aproximação com a Arábia Saudita, mas esta ficou apenas em visitas recíprocas de chefes de governo, sem ainda a formalização de um acordo. Em meio a isto ficou a constatação de que os países árabes, que sempre deram apoio aos palestinos na sua luta por um Estado, os haviam deixado de lado.

Agora, no entanto, surge uma luz nesse sentido refletida em artigo de Thomas Friedman, comentarista de assuntos internacionais do NYT. Segundo ele, a Arábia Saudita estaria disposta a normalizar as relações com Israel, mas “em troca os sauditas poderiam exigir que Israel suspenda todas as construções de assentamentos a leste da barreira de segurança israelense na Cisjordânia e aceite que o plano de paz árabe para uma solução de dois Estados seja a base das negociações com os palestinos. Tal compromisso significaria que os israelenses não construiriam mais “em 92% da Cisjordânia, preservando dois estados como opção, observando que hoje cerca de 80% dos colonos israelenses vivem a oeste da barreira”.

A segunda etapa viria com o fim da ocupação israelense e um acordo de paz com os palestinos: os sauditas poderiam prometer abrir uma embaixada para Israel em Tel Aviv e uma embaixada para os palestinos em Ramallah, na Cisjordânia. Ou uma para Israel em Jerusalém Ocidental e uma para os palestinos em Jerusalém Oriental, árabe. O que me parece impossível, porque Israel já decretou que Jerusalém é sua “capital uma e indivisível”. Seria a escolha de Israel, mas teriam que ser embaixadas para ambos. Israel também teria que se comprometer a preservar o status quo no Monte do Templo em Jerusalém, que é sagrado para todos os muçulmanos.

Curioso o que ressalta Friedman, após saudar a decisão do presidente Joe Biden de buscar retomar as negociações envolvendo israelenses e palestinos. Disse ele: “Como alguém que acompanha o Oriente Médio há décadas, porém, posso dizer que estou vendo algo novo, tão irônico quanto surpreendente: só a Arábia Saudita e os árabes-israelenses podem salvar Israel como uma democracia judaica hoje, não os EUA. Isso porque, por diferentes razões, os eleitores árabes-israelenses e a Arábia Saudita têm mais poder do que nunca para forçar os israelenses a escolher: eles podem ter um Estado democrático em Israel e na Cisjordânia, mas com o tempo, com as altas taxas de natalidade árabes, talvez ele não seja judeu”. Daí a colocação que faz no sentido de Israel se afastar da Cisjordânia para se manter como um estado judeu. São pontos polêmicos, como polêmica, para dizer o mínimo, tem sido a relação entre israelenses e palestinos. Mas, para quem acredita que ainda é possível uma solução negociada e, portanto, pacífica, o artigo de Friedman lança uma luz de esperança.


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