O exemplo do Peru

O exemplo do Peru

Recolocar o Peru nos trilhos não será fácil

Jurandir Soares

publicidade

O Peru está vivendo tempos conturbados que refletem um quadro que se acentua na América Latina. A maior parte dos países da região vive com o radicalismo se acentuando em meio a um total descrédito com as instituições. Pedro Castilho ganhou a eleição no Peru, em julho de 2021, somando 46,8% dos votos contra 46,6% de sua oponente, Keiko Fujimori, da Fuerza Popular. A pequena diferença mostra a divisão, porém esconde o desagrado dos eleitores com ambos os candidatos. Quem votou, escolheu o que considerava o menos pior.

Mostrando total inabilidade política, Castillo tentou um golpe de Estado sem ter apoio nenhum. Muito menos das forças armadas que são fundamentais para este tipo de operação. Foi detonado e preso. Esperava-se que o curso normal do país fosse retomado com a posse da vice-presidente Dina Boluarte, conforme manda a constituição. Mas, aí as divisões mais uma vez afloraram, opondo aqueles que defendem a nova mandatária, aqueles que querem a volta de Castillo e aqueles que querem nova eleição. Dina Boluarte tentou contemporizar sugerindo a antecipação para 2024 da eleição marcada para 2026. Não resolveu. Os distúrbios têm sequência e, com eles, aumenta o número de mortos. Já são cerca de duas dezenas. E vêm as consequências para o turismo. Centenas de turistas, de várias nacionalidades, estão bloqueados na cidade de Águas Calientes, aos pés da montanha onde se encontram as ruínas de Machu Picchu, por causa da onda de protestos que continua no país.

Uma lástima para um país que tem uma história pré-Colombiana maravilhosa, cujos sítios se constituem em imenso atrativo para a visitação e, por conseguinte, em alta fonte de renda para o turismo do país. Praticamente a cada ano se faz um novo achado arqueológico no Peru. Desde novas pirâmides na capital Lima, até resquícios de como os incas desenvolviam a medicina. Sem contar um painel, descoberto há cerca de um mês, pintado pelo ano 600 por uma civilização pré-incaica. Além disto, um país que, antes da pandemia, cresceu a uma média anual de 5%, por mais de 10 anos. Crescimento alicerçado não só no turismo, mas também nos minérios, especialmente o cobre, e na agricultura, cujos produtos principais são a batata e o milho. Além da gastronomia que é referência mundial.

A corrupção, mal endêmico da América Latina, levou à crise política, com a destituição de cinco presidentes antes de Castillo tentar o golpe. E a crise política levou ao descaso no tratamento da pandemia, fazendo com que o Peru tivesse, proporcionalmente, um número maior de mortos do que o Brasil. Recolocar este país nos trilhos não será tarefa fácil. Afinal, ele está reproduzindo o quadro de corrupção, descrédito nos políticos e fanatismo ideológico, que acontece em toda a América Latina.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895