O novo Oriente Médio

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Israel se aproxima dos Emirados Árabes Unidos fortalecendo os ‘Acordos de Abraão’

Jurandir Soares

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Uso o título do livro do ex-primeiro-ministro e ex-chanceler de Israel Shimon Peres para destacar o contexto da histórica visita que o atual premiê israelense Naftali Bennett realizou nesta semana aos Emirados Árabes Unidos. Fato que está inserido nos novos tempos estabelecidos pelos chamados “Acordos de Abraão”, mediados pelo então presidente norte-americano Donald Trump e que resultaram em pactos de reconhecimento mútuo de Israel com Emirados Árabes Unidos e Bahrein, num primeiro momento, e logo em seguida com Sudão e Marrocos. Lembrando que Egito e Jordânia já haviam firmado o mesmo tipo de acordo, em 1979 e 1994, respectivamente.

Os palestinos denunciam os acordos como uma traição, já que a resolução do conflito israelense-palestino foi durante muito tempo uma condição para qualquer normalização das relações entre os países árabes e Israel. Acontece que o mundo árabe vive hoje um outro momento. Quando apoiaram os palestinos em quatro guerras contra Israel mal estavam descobrindo o potencial que tinham na mão: o petróleo. À medida que souberam ir usando este recurso para o seu crescimento e implementação de novos negócios, que vão do turismo ao uso da alta tecnologia, deram um salto. E perceberam que ao lado está um país que tem tudo para se tornar um importante parceiro regional para o crescimento conjunto.

Israel por sua vez se reforça internamente com setores árabes-israelenses que têm uma visão mais abrangente regionalmente. Basta ver que o movimento chamado “coalizão pela mudança”, liderado por Bennett, que chegou ao poder, conta com a formação islâmica árabe Ra'am, liderada por Mansour Abbas, uma figura política israelense que também vem ganhando destaque nos últimos meses. Ele é o chefe da Lista Árabe Unida, uma pequena formação internacional da Irmandade Muçulmana. O Ra'am ganhou quatro das 120 cadeiras nas eleições legislativas israelenses em março passado, quatro cadeiras preciosas para a obtenção da coalizão majoritária. Mas o principal para Israel é ter os árabes como aliados, por duas razões. Uma delas, a venda de tecnologia, desde a dessanilização da água até a energia solar ou eólica, passando por semicondutores. A outra, a importante aliança contra o inimigo regional, o Irã. As monarquias muçulmanas sunitas do Golfo se opõem ao Irã muçulmano xiita. E Israel vê no regime dos aiatolás uma ameaça constante. Daí a importância da aliança. Além disto, já há muito dinheiro árabe em investimentos dentro de Israel. 

Quanto aos palestinos, estão gradativamente perdendo força e terreno. Já podiam ter o seu território nacional se não ficassem insistindo em ter a parte antiga de Jerusalém, algo que Israel não abre mão de maneira alguma. Já decretou Jerusalém sua capital una e indivisível. E quando falo nesses palestinos estou me referindo aos moradores da Cisjordânia, liderados pelo moderado Fatah, com quem é possível dialogar. Já nem cito o radical Hamas, cuja tendência é permanecer cada vez mais isolado na Faixa de Gaza. E todos assistindo os seus irmãos e antigos defensores árabes interagindo cada vez mais com Israel.


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