O perigo vem da Belarus

O perigo vem da Belarus

Quanto à ambicionada entrada da Ucrânia na Otan, o assunto é bem mais complicado.

Jurandir Soares

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Os países membros da Otan – Organização do Tratado do Atlântico Norte, têm reunião hoje e amanhã na Lituânia e o principal assunto da pauta é a discussão sobre a entrada da Ucrânia na organização. Mas, também, há os temores com relação ao papel que a Belarus, que tem 700 quilômetros de fronteira com a Lituânia, passou a ter nos últimos tempos, tendo em vista os anúncios de que teria recebido armas nucleares vindas da Rússia e também os integrantes do grupo mercenário Wagner, inclusive seu líder Yevgeny Prigozhin.

A Lituânia, assim como suas vizinhas do Báltico, Estônia e Letônia, tem uma história de opressão por parte de Moscou, desde a implantação do comunismo em 1917, até o seu fim em 1989. Tanto que, tão pronto ruiu a União Soviética, os três passaram a fazer parte da Otan, em busca de proteção. O problema é que a vizinha Belarus passou a ser uma espécie de filial do governo de Vladimir Putin.

O ditador Aleksander Lukashenko tem se mantido no poder através de eleições fraudulentas e conseguiu reprimir os fortes movimentos por democracia que surgiram no país. E na medida em que sufocou a oposição passou a seguir o que é dito por Putin. E como este, desde que iniciou a guerra a 24 de fevereiro de 2022, tem acenado com o uso de armas nucleares e estas agora estão ali na sua proximidade, os temores dos integrantes das três repúblicas do Báltico têm aumentado. E para incrementar as preocupações, veio o anúncio do deslocamento dos mercenários do Wagner para a Belarus.

A propósito de Wagner, após a fracassada tentativa do grupo de ir até Moscou e destituir o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado Maior, general Valery Gerasimov, ficou um silêncio sobre o paradeiro do líder Yevgeny Prigozhin. Agora vem a informação de que, cinco dias após a ação, o líder do grupo foi recebido no Kremlin por Putin. Ou seja, depois de um ato considerado de alta traição e de ambições desmedidas, o traidor é recebido em palácio para dialogar. Assim, o temível Putin, que manda envenenar ou jogar do alto de uma janela quem se atreve a contestá-lo, ficou como um cordeiro manso. Até porque, seguramente, que após sentar a poeira da tentativa de golpe, Putin vai voltar a se valer dos serviços dos mercenários, que foram aqueles que obtiveram os melhores resultados para a Rússia na guerra. Na contrapartida, os dirigentes que Prigozhin queria destituir permanecerão em seus cargos. Pelo menos é isto que foi anunciado nesta segunda-feira, quando Gerasimov teria sido visto dando ordens a seus subordinados para que destruíssem locais de mísseis ucranianos. Ou seja, apesar da acusação de Prigozhin de “total incompetência” os dois devem permanecer em seus postos.

Quanto à ambicionada entrada da Ucrânia na Otan, o assunto é bem mais complicado. Divide as opiniões e, mesmo que venha a acontecer, não será para agora. No atual momento receber a Ucrânia como membro seria o mesmo que declarar guerra à Rússia. Isto porque o artigo 5º do estatuto da organização diz que um ataque a um de seus membros significa um ataque a todos. Isto quer dizer que uma entrada só poderá acontecer depois que terminar a guerra. Antes disto é possível que aconteça a entrada da Ucrânia na União Europeia, que é outra grande ambição de Volodimir Zelensky e da maior parte da população ucraniana.

Mas o assunto entrada na Otan ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira envolvendo um outro pretendente: a Suécia. O país nórdico encaminhou seu pedido de adesão no ano passado, juntamente com a Finlândia. O seu vizinho já conseguiu, fazendo estender em 1.250 quilômetros a fronteira da Otan com a Rússia. Porém, a Suécia ficou na espera por uma decisão da Turquia, que acusa o país de ser receptivo ao que chama de terroristas do Curdistão turco. São guerrilheiros que lutam pela autonomia da região que fora incorporada à Turquia. Ainda nesta segunda-feira, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan condicionou esta aprovação à aceitação da Turquia pela União Europeia, uma reivindicação de mais de 50 anos. Deixou os parceiros numa saia justa. Mas, depois de negociações, foi anunciado que a Turquia aceitara a entrada da Suécia na Otan. Com isto a organização militar supera mais um importante obstáculo que se impusera à sua unidade. A estas alturas, a Aliança Atlântica que precisa estar reforçada para ajudar seus membros a enfrentar as ameaças, que, antes vinham somente da Rússia, mas que, agora, vêm também da Belarus.

 


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