O perigoso morde e assopra de EUA e China

O perigoso morde e assopra de EUA e China

Além de estar desenvolvendo um ameaçador programa nuclear.

Jurandir Soares

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Estados Unidos e China são duas das maiores potências mundiais, que têm interesses econômicos, políticos e militares antagônicos, que vivem fazendo ameaças um para o outro, mas ao mesmo tempo buscam desenvolver ações para evitar o que seria um catastrófico conflito entre ambos. O general Mike Minihan, chefe do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA, chegou a prever que os dois países irão entrar em guerra em 2025. As questões não são poucas, a começar pela chamada Guerra 2.0, deflagrada ao tempo do governo de Donald Trump e que envolve as disputas comerciais entre os dois países.

Passam pelo mar do Sul da China, onde Pequim tem se apoderado de várias ilhas e construído outras artificiais como bases navais, em áreas disputadas com os vizinhos Vietnã, Brunei, Malásia, Indonésia e Filipinas. Esses países, assim como os EUA, consideram a região áreas internacionais de navegação. E a frota da Marinha norte-americana tem transitado desafiadoramente por ali. Os incidentes não são poucos. Ainda na terça-feira o Pentágono acusou um piloto chinês de fazer uma manobra desnecessariamente agressiva contra uma aeronave norte-americana que operava na região. Em meio à turbulência gerada, o avião teve que recuar para não cair. O Departamento de Defesa dos EUA disse que conduzia “operações de rotina em espaço aéreo internacional, de acordo com a lei”.

Há ainda o caso da Coreia do Norte, protegida pela China, que vem realizando, desafiadoramente, testes com mísseis balísticos sobre o território do Japão.

Além de estar desenvolvendo um ameaçador programa nuclear. Tudo isto sob o inconfiável governo de Kim Jong-un. Porém, o maior problema a envolver EUA e China é Taiwan. E é em função dessa disputa que o general Minihan fez sua previsão de guerra até 2025. Vale lembrar que a China considera Taiwan uma província rebelde. E aí temos que remeter a 1949, quando a China, com sua área continental e mais a ilha, era governada por Chian Kai-shek. Nessa ocasião o país foi invadido pelo Exército Vermelho de Mao Tsé-tung, que depôs o governo de Chian Kai-shek e implantou o comunismo no país. O governante deposto refugiou-se em Taiwan, conduzindo ali um governo capitalista, sob a proteção dos Estados Unidos.

Essa situação teve uma guinada em 1979 quando, depois de manobras diplomáticas do secretário de Estado Henry Kissinger e a ida do presidente Richard Nixon a Pequim, os EUA reconheceram a unidade territorial da China, praticamente rompendo com Taiwan. No entanto, na medida em que começaram a crescer as disputas entre Washington e Pequim, Taiwan voltou a receber a atenção e ajuda norte-americana. Até porque o Comunicado Conjunto de 1979 entre os Estados Unidos e a República Popular da China, no qual o governo americano reconheceu a soberania de Pequim sobre a China continental e Taiwan, determinava que o “povo americano manterá relações culturais, comerciais, e outras não oficiais” com os taiwaneses. E a ajuda americana tem-se dado, principalmente, em termos de armamentos. Uma relação que vem num crescendo, o que gera um correspondente crescimento nas tensões sino-americanas. Essas tensões aumentaram com a visita a Taiwan da então presidente do Congresso norte-americano, Nancy Pelosi, em agosto de 2022. “A China se opõe firmemente a encontros oficiais entre os Estados Unidos e Taiwan sob qualquer pretexto. Quem está brincando com fogo vai acabar se queimando muito”, disse na ocasião o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China.

O incidente desta semana com o avião norte-americano é mais um episódio nas tensões. O porta-voz da embaixada da China em Washington acusou os americanos de conduzirem missões que representariam “um sério risco à segurança nacional chinesa”. “A China continuará a tomar as medidas necessárias para defender resolutamente sua soberania e segurança e trabalhar com os países da região para salvaguardar firmemente a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China”.

Menos mal que, em meio a essas disputas, nos bastidores despontam ações apaziguadoras. Soube-se, por exemplo, que Bill Burns, diretor da CIA e homem de prestígio junto ao presidente Joe Biden, viajou secretamente a Pequim para estabelecer negociações com autoridades chinesas. A visita mais importante de um funcionário do governo Biden a Pequim ocorre no momento em que Washington pressiona por compromissos de alto nível para tentar estabilizar a relação com a China. Outro encontro secreto foi realizado na Áustria entre o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e encarregado da política externa da China, Wang Yi. A intenção do governo Biden agora é ressuscitar uma viagem à China do secretário de Estado Antony Blinken, que fora cancelada em função do episódio de um balão chinês ter sido abatido nos Estados Unidos.

Enfim, entre as disputas e os incidentes desenvolvem-se as negociações de paz. E com isto uma coisa parece ficar clara. Se a China invadir Taiwan, os EUA não irão intervir diretamente em defesa da ilha. Poderão, no máximo, fazer como o que está acorrendo com a Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.

Fornecem armas, mas não soldados. Isto, evidentemente, se antes não surgir um confronto direto entre EUA e China como decorrência dos múltiplos incidentes.


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