O plano de paz de Zelensky

O plano de paz de Zelensky

Não só deu o produto, como ainda disse que pagaria o frete.

Jurandir Soares

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Enquanto ecoava pelo mundo a notícia das explosões causadas por drones a dois arranha-céus no centro financeiro de Moscou, surgia a informação de que o presidente Volodimir Zelensky elaborou um plano de paz, que pretende discutir em reunião a ser realizada nos próximos dias 5 e 6, em Jedah, na Arábia Saudita. A informação partiu do The Wall Street Journal, dizendo que o encontro contará com representantes de mais de trinta países, sem a presença da Rússia, mas com a participação de Brasil e India, que são vistos como ao lado dos postulados de Vladimir Putin.

Uma reunião sem a participação direta de uma das partes já torna bem mais difícil o consenso. Ainda mais que a proposta de Zelensky contempla a retirada russa de todos os territórios ocupados na Ucrânia, porém não diz o que a Rússia receberia em troca. A estas alturas é seguro que Putin também está desgastado pela guerra e poderá aceitar o cessar-fogo, desde que seja em troca de algumas concessões. Dentre elas, o levantamento de todas as sanções que foram aplicadas pelo Ocidente. E por aí passam as vendas de gás, petróleo, cereais, fertilizantes e outros produtos, bem como o levantamento do bloqueio às operações internacionais de bancos russos. Isto deve ser o mínimo que Putin irá exigir, porém com isto aí ele não estará ganhando nada. Apenas vai recuperar o que perdeu. A grande questão é quanto à aceitação de retirada dos territórios ucranianos, o que foi o mote da guerra, que Putin segue chamando de operação militar especial. Vale ressaltar que Zelensky quer a retirada de todas as áreas. Não só da região do Donbas, onde há uma significativa população de origem russa, mas também da Crimeia, que a Rússia já havia tomado em outra operação, em 2014. Resumindo, a Rússia sairia da guerra com menos do que entrou.

Vale lembrar que em reunião realizada em São Petersburgo, nos dias 22 e 23 de julho, um grupo de países africanos apresentou a Putin um plano para a paz. Acredita-se que tenha sido uma reformulação de outro, apresentado meses atrás e que não foi considerado por Moscou. Agora, buscando apoio em meio ao isolamento internacional a que foi submetido, Putin presenteou cinco países africanos com de 25 a 50 toneladas de grãos. Não só deu o produto, como ainda disse que pagaria o frete. Mas, voltando à reunião da Arábia Saudita, o problema maior é não ter alguém que fale pela Rússia. Brasil e Índia, por mais que tenham inclinações pela posição russa, não têm poder para representá-la. Diga-se de passagem, que esta posição do governo brasileiro pró Rússia é algo que contraria o que pensa a maioria dos brasileiros.

Segundo o governo ucraniano, o presidente Zelensky reuniu em Kiev os embaixadores dos países que irão participar do encontro de Jedah para lhes comunicar suas pretensões. E como a realidade mostra que as perspectivas para que se consiga alguma coisa efetiva dessa reunião são muito pequenas, Zelensky já teria deixado transparecer aos diplomatas sua esperança de que este encontro sirva, pelo menos, para alicerçar uma grande conferência de paz antes do fim de 2023. Espera-se que nessa conferência haja a presença russa, para que se tenha alguma perspectiva de sucesso. Até lá, quantas vidas ainda serão perdidas e quantos prédios destruídos?

Mas, enquanto a situação não se resolve e procurando ser prática, a Ucrânia acaba de fechar um acordo com a Croácia para a exportação de seus grãos. Serão utilizados os portos croatas do Danúbio e do Mar Adriático, conforme informou o chanceler ucraniano Dmytro Kuleba. Segundo a empresa Gro Intelligence, a Ucrânia está entre os três principais exportadores mundiais de cevada, milho e óleo de girassol. Por este dado se pode ver o estrago que esta guerra faz, não só para a Ucrânia, mas para a própria alimentação do mundo. Ao mesmo tempo, sem que haja um anúncio oficial, percebe-se que os drones continuarão a ser a arma ucraniana a perturbar Putin, na medida em que atingem prédios importantes em Moscou. Concluindo, estamos com uma proposta de paz, mas a guerra segue sendo mais forte que ela.


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