Os desafios de Charles III e Liz Truss

Os desafios de Charles III e Liz Truss

Representatividade da monarquia cabe ao rei e a recuperação econômica à primeira-ministra

Jurandir Soares

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O novo rei do Reino Unido Charles III assume com a extraordinária tarefa de substituir uma figura que ao longo de sete décadas conquistou a simpatia e o reconhecimento do mundo, por sua altivez e rigoroso cumprimento da liturgia do cargo. Em seu primeiro pronunciamento o novo monarca se saiu bem, ao dizer que renova o compromisso de sua mãe de dedicar sua vida ao Reino Unido, centrado na continuidade e não em mudanças. E ainda que sua mãe foi sua grande inspiração. Charles sabe que não é unanimidade como fora Elizabeth II. Longe disto. Mas sabe que seu filho William e a esposa Kate têm a simpatia popular. Por isto, sabiamente, já tratou de colocá-los como seu suporte ao dizer que, após tantos anos como príncipe de Gales, agora passa esse título a William. "Com Catherine ao seu lado, nossos novos príncipe e princesa de Gales vão continuar a liderar e inspirar nossas discussões nacionais, ajudando a trazer as margens para o centro, onde ajuda vital pode ser fornecida." Importante colocá-los como suporte para diminuir as especulações de que ele, Charles, deveria renunciar em favor de William.

Sem dúvida Charles III dá um primeiro e importante passo para se firmar como monarca. Sabe que não terá a longevidade de sua mãe no trono, mas também sabe que precisa substituí-la à altura. E é lógico que durante este tempo de espera ele se assessorou convenientemente para enfrentar o desafio que algum dia iria se apresentar à sua frente. Um desafio de tempos diferentes dos vividos por sua mãe. Conforme ele bem ressaltou, Elizabeth II enfrentou a Guerra Fria e ele se depara com a globalização. Mas há nesse contexto um outro fato que é enorme desafio não só para ele, mas também para a nova primeira-ministra Liz Truss. Aliás, protagonista do último ato de posse dado por Elizabeth II aos 15 primeiros-ministros que se sucederam ao longo de seu mandato. O desafio é a nova realidade britânica pós-Brexit, a saída da União Europeia. Algo que se dá num momento em que os britânicos enfrentam uma inédita inflação de 10,1% nos últimos 12 meses. Algo que para eles pesa muito mais que uma inflação de 14% para nós brasileiros, conforme tivemos há pouco tempo.

A saída da União Europeia trouxe algumas vantagens como não depender de uma decisão de Bruxelas para qualquer atitude que Londres queira tomar. Permitiu também determinar quem pode ou não entrar em seu território. Mas trouxe um custo alto: a perda do livre trânsito de pessoas e mercadorias pelos 26 países integrantes da UE. Com isto, por exemplo, a indústria automobilística britânica tem que pagar imposto para receber os componentes que antes vinham sem custo de outros países do bloco. Isto para citar apenas um exemplo. Cabe especificamente para Liz Truss lidar com um país com carência de fontes energéticas e com uma população majoritariamente velha. Além disto, o serviço de saúde, que já foi uma referência mundial, está em declínio. Ela, que busca se espelhar na “dama de ferro” Margaret Thatcher, anunciou cortes de impostos, melhor regulação e mais livre mercado na busca de superar a crise.

Assim é que cabe a Liz Truss recuperar a fragilizada economia do país, assim como o ânimo dos britânicos, e a Charles III, não só permanecer no trono, como manter a monarquia com toda sua representatividade e respeitabilidade.

 


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