Os descaminhos da guerra

Os descaminhos da guerra

O presidente chinês, Xi Jinping, está insistindo em ser o mediador para a guerra da Rússia contra a Ucrânia

Jurandir Soares

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O presidente chinês, Xi Jinping, está insistindo em ser o mediador para a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Já elaborou um plano de 12 pontos que levou até Moscou para apresentar ao presidente Vladimir Putin, que não aceitou porque uma das cláusulas estabeleceria a retirada russa dos territórios que ocupa na Ucrânia, inclusive a Crimeia, tomada em 2014. Mesmo assim, Xi busca levar adiante seu plano, tendo convidado dirigentes europeus a irem a Pequim para discutir sobre o mesmo. E o convite já foi aceito. Na semana passada ele recebeu o premiê espanhol, Pedro Sanchez. E nesta semana Xi recebeu em Pequim o presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. Na sequência deverá receber o secretário geral da Otan, Yens Stoltenberg.

No encontro desta semana, Macron pediu a Xi que exerça sua influência sobre Putin no sentido de convencê-lo a vir para uma mesa de negociações. Ao mesmo tempo pediu para que atenda ao convite do presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, para um encontro entre ambos. Esta mobilização de dirigentes europeus tem dois objetivos. Um deles diz respeito à crescente influência chinesa nos negócios europeus. Poucos dias antes da visita a Pequim, Von der Leyen afirmou que a Europa “corria risco” diplomático e econômico com uma China endurecida. Ela voltou ao tema nesta quinta: “Tanto a Europa quanto a China se beneficiaram imensamente com esse relacionamento. No entanto, as relações UE-China se tornaram mais complexas nos últimos anos, e é importante discutirmos todos os aspectos de nossas relações”, afirmou. O fato é que a China tornou-se um ator internacional cada vez mais atuante. Especialmente, porque passou a colocar qualidade nos seus produtos. Porém, mesmo com as contestações, Macron viajou a Pequim acompanhado de uma delegação de mais de 50 empresários, onde se incluíam executivos da Airbus, empresa que assinou acordos para abrir uma nova linha de montagem na China, dobrando sua capacidade no segundo maior mercado de aviação do mundo. Assim é que essa rejeição à expansão de negócios da China na Europa é relativa. Até porque Xi disse que Pequim está disposta a trabalhar com Bruxelas para reiniciar acordos em todos os níveis.

Mas a outra preocupação da Europa é com os custos da guerra. Isto sim está trazendo graves consequências, que começaram com o desabastecimento do gás que era fornecido pela Rússia, passaram pela alta de preços de produtos essenciais e estão culminando com subida da inflação, cuja média europeia em 2022 foi de 10%. Somam-se a isto os enormes recursos financeiros e em armamentos que estão sendo destinados à Ucrânia, para que suporte a guerra contra a Rússia. E aí vem o papel dos Estados Unidos, que não estão satisfeitos com esta aproximação da Europa com a China, pois os norte-americanos travam com Pequim a guerra comercial que se convencionou chamar de 2.0. Porém, a diferença maior entre Washington e Bruxelas está no fato de que os norte-americanos querem seguir com a guerra da Ucrânia. Querem continuar armando Kiev para seguir com uma guerra que visa ir desgastando gradativamente a Rússia. Tanto que nesta semana, além dos tanques que enviou, Washington mandou mais 2,6 bilhões de dólares em ajuda militar. O que fez com que a ajuda dos EUA para a Ucrânia chegue a 35 bilhões de dólares.

O líder europeu que demonstra estar mais disposto a atender o objetivo dos EUA é o presidente da Polônia, Andrzej Duda, o qual recebeu nesta quarta-feira a visita de Zelensky, que foi agradecer por ter sido o primeiro país a enviar aviões de combate para a Ucrânia. O encontro também levantou a especulação de que estaria sendo preparada uma contraofensiva, especialmente diante do avanço que a Rússia está tendo em Bakhmut, uma ação que é desenvolvida pelo grupo mercenário Wagner, que é quem está conquistando os melhores resultados para a Rússia. A conclusão é de que, enquanto uma parte do Ocidente busca uma mediação para acabar com a guerra, e, como tal, com seus prejuízos, outra parte quer seguir com a mesma, de modo a ir debilitando a Rússia gradualmente. Só não se pode esquecer que a prorrogação da guerra significa também a extensão do sofrimento do povo ucraniano.


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