Os impasses dos EUA

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Disputas Políticas e Paralisação nos EUA: Destituição do Presidente da Câmara dos Deputados e o Impacto nas Eleições Futuras

Jurandir Soares

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Os Estados Unidos conseguiram nesta terça-feira o feito inédito de destituir o presidente da Câmara dos Deputados. Isto, quatro dias depois de ele ter conseguido comandar uma sessão do Parlamento que evitou a paralisação do governo, com a consequente suspensão dos pagamentos de salários para 3,5 milhões de funcionários públicos e integrantes das Forças Armadas. Sem contar os aposentados. O curioso é que a decisão de sábado evitou a paralisia do governo democrata de Joe Biden e a ação que derrubou o presidente da Câmara dos Representes, Kevin McCarthy, foi pilotada por oito deputados republicanos, liderados por um desafeto de McCarthy, mas teve o apoio de toda a bancada democrata. Um placar de 216 a 210.

O incoerente da posição democrata é que a deposição de McCarthy resulta em apenas mais 45 dias para se chegar a um acordo sobre o financiamento do governo para o próximo ano. E neste período está suspensa qualquer ajuda à Ucrânia. Ou seja, o país que é principal membro da OTAN e o principal fornecedor de ajuda bélica e humanitária ao país de Volodimir Zelensky teve que parar com a ajuda. Menos mal para Zelensky que os europeus logo se mobilizaram e prometeram unir esforços para manter o apoio à Ucrânia. Mas não será a mesma coisa. Porém, Joe Biden segue correndo contra o tempo pela sobrevivência de seu governo. “Com muitas disputas políticas remanescentes e uma diferença de US$ 120 bilhões entre os partidos sobre o nível de gastos para o ano fiscal de 2024, é difícil ver como o Congresso pode aprovar os 12 projetos de gastos necessários para o ano inteiro antes que o financiamento expire em 17 de novembro”, disse para agência Reuters um analista do Goldman Sachs.

Nos Estados Unidos o ano fiscal começa dia 1º de outubro. Este era o prazo para que o Legislativo aprovasse 12 projetos de leis orçamentárias autorizando gastos por agências federais. Sem eles, não há como pagar salários de funcionários públicos e militares, conceder empréstimos para pequenos negócios, manter parques nacionais abertos e até emitir certidões de casamento. Mas não são somente estes os atingidos. Os cidadãos comuns também, porque ficam sem alguns dos serviços essenciais, implicando até mesmo fechamento de aeroportos, devido à falta de agentes de segurança. A análise do Goldman Sachs indica que cada semana de paralisação representa perda de 0,2 ponto percentual do PIB.

Este quadro é mais um fator a debilitar a candidatura de Joe Biden às eleições presidenciais do próximo ano. Começa que está havendo muita contestação entre os democratas por causa de sua avançada idade. Não só da idade, mas da certa debilidade física que ele demonstra ter. O problema é que não surge um nome entre os democratas que tenha maior representatividade. Nomes como os da vice Kamala Harris ou do extremista Bernie Sanders são descartados de plano. E, a um ano da eleição, não surge outro nome. Já entre os republicanos, Donald Trump mais uma vez está patrolando seus opositores de partido. Uma aposta de renovação seria o governador da Flórida Ron DeSantis. Porém, pesquisas mostram que há uma diferença enorme entre ambos. Enquanto Trump chega a 52% do eleitorado republicano, DeSantis não passa de 19%. O problema de Trump será se livrar da cadeia, em meio a tantos processos em que está envolvido. E ele não está tendo controle da língua. Nesta terça-feira, ao depor em Nova Iorque, chamou a procurada-geral Letitia James de “muito corrupta” e “extremamente incompetente”. Além de acusá-la de racismo, já que ela é negra.

Apesar de tudo, Trump faz de cada audiência em que é chamado a prestar contas por negócios obscuros, uma plataforma eleitoral. Assim é que já desponta nas pesquisas à frente de Biden. E, se para uns a vitória de Trump será uma alegria, para outros será um pesadelo. O que deixa a perspectiva de uma continuidade da divisão nos EUA. E da continuidade também da desilusão dos cidadãos americanos com o seu país. Pelo menos é o que está demonstrando pesquisa do Instituto Pew, divulgada nesta quarta-feira. “A porcentagem que acredita que nosso sistema político está funcionando extremamente ou muito bem é de apenas 4%,” diz a pesquisa. Ou seja, só impasses na terra de Tio Sam.


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