Os limites da guerra

Os limites da guerra

A guerra é uma atividade desumana que ceifa vidas e causa destruição

Jurandir Soares

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A guerra é uma atividade cruel que mata e destrói. Apesar disto, tem suas regras. As quais precisam ser observadas por países legalmente constituídos. Este dever, torna-se a cada dia mais claro, não está sendo devidamente cumprido por Israel. Basta se observar o número de civis mortos, entre crianças, mulheres, velhos e homens, embora se inclua nestes últimos um grande número de integrantes do Hamas. Mas, como chocou ver o que foi feito com as vítimas do cruel ataque terrorista do Hamas em Israel, também choca para o cidadão comum ver a mortandade em Gaza. Choca ver a destruição de hospitais, muito embora se alegue que membros do Hamas ali se escondiam. Mas ali estavam pacientes, vítimas da guerra, e médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde que os atendiam. Choca ver uma população que a cada dia perde um ou mais membros de sua família. Choca ver uma população que, a cada dia, vai sendo cada vez mais encurralada dentro do seu território, que já não tem mais onde se refugiar e, pior, não encontra o que comer.

O Ataque

E aí choca mais ainda quando voluntários decidem levar ajuda humanitária para aquelas pessoas e são abatidos por um ataque aéreo, embora estivessem dentro de veículos devidamente identificados, neste caso, WCK, de World Central Kitchen, organização comandada pelo chef hispano-americano José Andrés. Tudo isto, muito embora a ONG de ajuda humanitária tenha comunicado às autoridades israelenses a tarefa que iria desempenhar. Sete integrantes do comboio de ajuda morreram, entre eles cidadãos da Polônia, Austrália, Reino Unido e um com dupla cidadania estadunidense e canadense. Não foi sem motivo que o governo do Reino Unido convocou o embaixador de Israel para manifestar sua “condenação inequívoca” pelo ocorrido. A situação chegou a um ponto que até os Estados Unidos, principal aliado de Israel, já não veta mais no Conselho de Segurança da ONU ações que contrariam a posição de Israel.

Desculpas

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, atribuiu o ocorrido com os integrantes do comboio da WCK a “coisas que acontecem numa guerra”. Mais realista, o presidente israelense, Isaac Herzog, apresentou suas “desculpas” pelo ocorrido. Considerando que pedidos de desculpas minimizam, mas não salvam vidas, é preciso destacar o mais fora de contexto dos pedidos de desculpas. O que foi feito pelo Hamas, pedindo desculpas à população de Gaza pela situação a que foi levada. Ora, os terroristas não sabiam que, como já ocorreu em outras vezes, um ataque a Israel corresponderia à fortíssima reação das forças israelenses? Então, é preciso colocar que Israel está extrapolando os limites da guerra, mas tudo está acontecendo por culpa exclusiva do Hamas. Não tivesse feito o ataque de outubro, não teria havido esta reação. O que, evidentemente, não isenta Israel de suas culpas pelo que está praticando.

Extensão

O pior é que este condenável conflito que está acontecendo em Gaza pode ter sua extensão por outras partes do Oriente Médio, inclusive com um envolvimento direto do Irã. Basta observar o que aconteceu na segunda-feira, com o ataque de Israel à embaixada do Irã em Damasco, na Síria. Episódio que resultou na morte de dois dos principais generais iranianos e cinco assessores. Israel não assumiu a autoria do atentado, mas uma autoridade do governo israelense, falando à Reuters sob condição de anonimato, disse que os atingidos “estavam por trás de muitos ataques a bens israelenses e norte-americanos e tinham planos para ataques adicionais”. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu vingança. “O regime sionista será punido pelas mãos de nossos bravos homens. Faremos com que ele se arrependa desse crime e de outros que cometeu”, disse ele. Ou seja, amplo perigo de expansão do conflito de Gaza.


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