Os planos para a paz

Os planos para a paz

Invasão da Ucrânia completa 1 ano

Jurandir Soares

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Nos últimos dias o mundo todo se mobilizou em função da guerra na Ucrânia. Afinal, a sexta-feira, 24, assinalou um ano da invasão daquele país pela Rússia, numa ação que até hoje Vladimir Putin não chama de guerra, mas, de operação militar especial. A mobilização começou na quinta-feira no âmbito da Organização das Nações Unidas, com a Assembleia Geral aprovando por 141 Estados membros uma resolução que pede às partes do conflito e à comunidade internacional que busquem formas de mediar a paz, destacando que acabar com a guerra fortaleceria a paz e segurança internacionais. A resolução também pede que a Rússia retire suas tropas do território ucraniano e deplora as consequências humanitárias causadas pela agressão russa contra Ucrânia, ressaltando os ataques às infraestruturas civis e o crescente número de vítimas. O documento reafirma o compromisso com a soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia dentro de suas fronteiras reconhecidas internacionalmente. Tudo muito bonito, porém, muito difícil de ser implementado, especialmente porque o principal implicado, a Rússia, tem poder de veto na organização.

Na sexta-feira, veio a tão esperada proposta de paz elaborada pela China. Também difícil de ser implementada, porque, de saída, já recebeu algumas contestações importantes, como da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a qual disse que “a China já escolheu seu lado”, acrescentando que o país não tinha apresentado propriamente um plano, e sim alguns princípios. Dividida em 12 pontos, a proposta de paz chinesa é em grande medida uma reiteração do posicionamento de Pequim sobre o conflito desde o início. Entre as propostas, estão a oposição ao uso de armas nucleares, o que é um chamamento ao presidente Putin, que tem acenado com o uso das mesmas e, inclusive, tirou seu país do Novo Start, o acordo que controla essas armas. Outro ponto, o fim das sanções impostas a Moscou, o que envolve, basicamente, Europa e Estados Unidos, que tomaram essas medidas, e ainda pede o fim do que chama de “mentalidade da Guerra Fria”, isto é, a divisão do mundo em blocos, o que é uma advertência para os membros da Otan. Destaca ainda o que parece ser o mais importante: a defesa da integridade territorial e da segurança da Rússia. Integridade territorial é obviamente para a Ucrânia, dando a entender que a Rússia tem que se afastar das áreas que ocupa. Em troca ganharia sua segurança, que consiste na não adesão da Ucrânia à Otan.

Tudo, como se observa, muito difícil de ser implementado, especialmente, pelas posições estabelecidas pelos presidentes Zelensky e Putin para irem a uma mesa de negociações. Zelensky quer a retirada russa não só das províncias do Donbas, onde há um contingente de origem russa, mas, também da Crimeia. Putin quer tudo isto para parar sua “operação militar especial”. Um meio termo poderia ser a Ucrânia manter o Donbas e aceitar entregar a Crimeia. Afinal, essa província já está de posse da Rússia desde 2014, tendo voltado para sua origem. Sim, porque ela era parte da Rússia até 1954, quando o então líder russo Nikita Kruschev a deu de presente para a Ucrânia a fim de reforçar a “unidade entre russos e ucranianos” e a “grande e indissolúvel amizade” entre os dois povos.

O que colabora para que esta guerra chegue ao fim é o desgaste que ela está causando em todas as partes envolvidas. Senão, vejamos. Todos os países vêm de uma pandemia que causou muitas mortes, diminuição de produção, inflação e perda de empregos e de poder aquisitivo. Sem ainda terem se recuperado, tiveram que passar a gastar bilhões de dólares com o conflito. Só o Ocidente mandou 150 bilhões de dólares para a Ucrânia, em ajuda humanitária e armamentos. Aliás, a produção de armamentos entrou em colapso. Estados Unidos e Europa estão gastando horrores com o conflito. Não é diferente a situação da Rússia, com gastos com armamento e manutenção das tropas, colapso também na produção de armas, mortes de soldados e protestos generalizados pelo país. Sem contar os problemas decorrentes das sanções que impedem a Rússia de receber componentes essenciais para sua indústria. A Ucrânia, então, nem se fala. Mortes de soldados e de civis, evasão populacional com seus cidadãos se tornando refugiados em outros países e destruição generalizada do país. Então, o bom senso manda imediatamente negociar. As propostas estão aí. Até o Brasil deu um palpite. Porém, os acontecimentos têm demonstrado que bom senso não é algo fácil de se encontrar entre as partes envolvidas.


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