Os protestos pela reação de Israel

Os protestos pela reação de Israel

O que se questiona são as vidas levadas em decorrência dos bombardeios.

Jurandir Soares

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Uma das questões mais delicadas a serem abordadas hoje é a forma de reação de Israel aos atentados terroristas praticados pelo Hamas em 7 de outubro. Ninguém contesta o direito que o país tem de sair à caça da organização terrorista, em busca de sua eliminação, conforme declarou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ninguém contesta que é na Faixa de Gaza que a organização terrorista se esconde e se arma e que é ali que deve ser combatida. Porém, o questionamento que se faz hoje, que gera muita polêmica e o qual eu ouso compartilhar, mesmo sabendo que vou levar muitas críticas, é sobre a morte indiscriminada de civis que gera essa caça ao Hamas. Todo mundo sabe que a organização radical mantém a população de Gaza como refém. Que usa o subsolo dos hospitais como suas bases militares. Que estocou arsenais em túneis que construiu sob território. E tudo o mais. E que mesmo assim precisa ser atacada até ser eliminada. O problema que está chocando o mundo é a morte indiscriminada de civis, decorrentes da reação israelense. São crianças, mulheres, velhos sendo soterrados pelos prédios que ruem em decorrência dos bombardeios. Já não se questiona nem a destruição quase que total daquela área. O que se questiona são as vidas levadas em decorrência dos bombardeios.

Assim, se as imagens do 7 de outubro em Israel não só chocam, mas apavoram por sua crueldade, a imagens de crianças sendo retiradas dos escombros ou sendo carregadas nos braços de seus país, feridas ou mortas, em Gaza, não deixam de chocar. Sabe-se que há uma diferença brutal na forma de agir do Hamas e do exército de Israel, porém, o resultado é o mesmo: a morte de civis inocentes. E é isso que parece não tocar as autoridades israelenses, assim como a todos aqueles que apoiam a forma como Israel está agindo. É sempre importante ressaltar o direito que Israel tem de atacar o Hamas, mas é preciso ressaltar também as 11 mil vidas de civis que já se foram nesse combate. E isto não pode ser encarado como uma decorrência natural do conflito. O Hamas age à margem da lei, mas o Exército de Israel precisa cumprir regras de guerra, especialmente no que toca aos civis. Não é sem razão que crescem manifestações de dirigentes ocidentais pedindo um cessar-fogo para poupar os civis. Assim como não é sem razão que multiplicam-se pelas capitais europeias manifestações a favor dos palestinos. Embora em muitas dessas manifestações possam ter alguns lampejos de apoio ao Hamas, o fundamental é o suporte à causa do estado da Palestina. Algo que, tenho ressaltado, precisa ser tratado com urgência após o conflito. Ao mesmo tempo temos visto manifestações contra o antissemitismo, por se estar vendo esse outro nefasto movimento ressurgindo.

É preciso ressaltar que a forma como Israel está reagindo aos atentados está colaborando para os intentos da organização terrorista. Por um lado, por estar conseguindo provocar o retorno de manifestações antissemitas. E aí mais uma vez eu chamo a atenção: elas surgem porque os adeptos da causa se alicerçam nas formas de reações de Israel. Mas, o problema maior que vejo é quanto ao extermínio do Hamas. Isto porque aquela população de Gaza, que está sendo bombardeada, sabe que isto ocorre por culpa do Hamas. Porém, com a continuidade e com horror dos bombardeios, essa revolta, na medida em que o tempo vai passando, torna-se contra Israel. Então, se não surgir logo uma solução para esse povo que está confinado nesse pequeno pedaço de terra, estarão surgindo hoje ali, dentre os meninos, futuros novos integrantes da organização terrorista. Ou seja, a ação de Netanyahu para acabar com o Hamas terá feito uma substituição dos seus integrantes, dentre aqueles autores dos atentados que morreram nos combates, pelos sobreviventes dos bombardeios que venham aderir à causa. E com isto só teremos a perpetuação do conflito, com novos atentados e novos confrontos. 


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