Paraguai, eleição Brasil e Itaipu

Paraguai, eleição Brasil e Itaipu

No processo eleitoral, o Partido Colorado que, com pequenas interrupções, governou o país ao longo dos últimos 76 anos, tem como candidato Santiago Peña, que não demonstrou uma posição clara sobre a renegociação do tratado.

Jurandir Soares

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O Paraguai realiza eleições presidenciais neste domingo e quem for o vencedor vai receber o país que tem como projeção para 2023 o mais alto índice de crescimento da América Latina, 5%. Uma prova de que aquele país que vivia fundamentalmente do contrabando se transformou e hoje é um ator importante no cenário regional. Impulsionado fundamentalmente pelo agronegócio, o qual teve um grande impulso pela entrada no país dos chamados “brasiguaios”. Mas, justo a propósito de Brasil, o novo presidente terá a tarefa de renegociar o tratado sobre Itaipu, que neste ano completa 50 anos da sua assinatura.

No processo eleitoral, o Partido Colorado que, com pequenas interrupções, governou o país ao longo dos últimos 76 anos, tem como candidato Santiago Peña, que não demonstrou uma posição clara sobre a renegociação do tratado. O opositor, candidato da Concertación Nacional Efrain Alegre, já disse querer uma renegociação, com o inevitável aumento das tarifas. A Concertación é uma frente opositora constituída por 40 partidos de centro-esquerda. Alegre, de 60 anos, que volta a concorrer à presidência, disse que sua coalizão não é contra o Partido Colorado, mas contra o “dinheiro sujo” que provem do crime organizado. E assegurou que o candidato colorado forma parte da máfia do país. Ambos aparecem tecnicamente empatados na pesquisa divulgada na terça-feira, 25, pela AtlasIntel, com 33% e 34%, respectivamente. 

Um terceiro candidato ganhou força na reta final, o extremista Paraguayo Cubas, que tem ganhado destaque por falas extremistas contra brasileiros e tem 23% das intenções de voto. Enquanto senador, Paraguayo Cubas teve o seu mandato cassado em 2019 após divulgar um vídeo em que afirma querer matar “100 mil brasileiros bandidos” viventes no país. Todos os candidatos, no entanto, consideram que a presença de Lula no governo brasileiro é um bom indicativo para eles, pois, em seu governo anterior, o petista negociou, em 2009, com o então presidente paraguaio, o bispo esquerdista Fernando Lugo (2008-2012), um aditivo do acordo que fez triplicar o valor pago pelo Brasil ao Paraguai. O que, evidentemente, encheu de alegria os paraguaios.

É preciso ressaltar que Itaipu foi construída na fronteira entre os dois países com o financiamento assumido totalmente pelo Brasil. A energia gerada seria dividida entre os dois países. Como o Paraguai iria consumir apenas 15% da energia gerada, o Brasil compraria o excedente, descontando a parte do financiamento correspondente ao Paraguai. Este rateio, no entanto, sempre foi objeto de muitos questionamentos por parte dos paraguaios. Foi também no governo Lugo que os paraguaios pediram um estudo ao economista Jeffrey Sachs, o qual apontou que o Paraguai já teria quitado sua dívida para com o Brasil, referente à Itaipu, em 2008. E que ainda teria a receber de volta cerca de US$ 5 bilhões. Lembro de ter colocado este tema para o sucessor de Lugo, Horácio Cartes, quando fui cobrir a eleição que o elegeu. E a resposta dele na ocasião foi que o tratado com o Brasil venceria em 2023. Mesmo assim, o atual presidente, Mario Abdo Benítez, chegou a formalizar um outro acordo com o então presidente Jair Bolsonaro, em 2019. Porém, o vazamento dos detalhes gerou uma onda de protestos no Paraguai, por considerá-lo prejudicial ao país, e o acordo foi cancelado. Agora, com o vencimento do tratado, haverá a possibilidade de renegociá-lo.

Um total de 4,7 milhões de eleitores estão habilitados a ir às urnas neste domingo e eleger o presidente que tomará posse em agosto, para um período de cinco anos, sem direito à reeleição. Agricultura, pecuária, pesca e silvicultura são os impulsionadores da economia paraguaia atualmente, sendo que o país se tornou, assim como Brasil e Argentina, um grande exportador de soja.


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