Pirataria russa

Pirataria russa

Navios russos foram flagrados em águas internacionais passando o petróleo para embarcações de outras bandeiras

Jurandir Soares

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Segundo noticiou nesta quinta-feira o jornal espanhol El País, navios russos foram flagrados em águas internacionais passando o petróleo para embarcações de outras bandeiras. A reportagem assinada por Miguel Gonzalez diz que esta operação, chamada de ship to ship, tem sido realizada com frequência, sendo uma forma usada pela Rússia para burlar o embargo que o Ocidente impôs ao seu petróleo. Vale lembrar que, para superar o bloqueio de suas operações financeiras internacionais, a Rússia havia determinado que só venderia seu petróleo mediante pagamento em rublos. O que em algum momento lhe permitiu respirar. Porém, na medida em que a Europa foi buscando outros fornecedores e outras fontes de energia, Moscou ficou sem ter para quem vender. Segundo as informações do jornal espanhol, o petróleo cambiado se destinava ao Extremo Oriente, muito possivelmente para a China, que, juntamente com a Índia, passou a ser a grande compradora do produto russo.

Em meio a essa notícia e às especulações de que a Rússia prepara uma grande investida para o final do mês, quando se completa um ano da guerra, vem a informação sobre como a Rússia está sendo afetada pela guerra. A economia russa está muito pior do que todas as previsões mostravam, de acordo com artigo publicado por cinco economistas da Universidade de Yale. Fala-se que o rublo se valorizou, o que é verdade, mas isto não representa vantagem para a Rússia. Para entendermos isto, explicam os economistas, vamos nos aprofundar nos três fatores determinantes para esta elevação. Primeiro, as sanções econômicas direcionadas à Rússia limitaram drasticamente o país de fazer importações de mercadorias. Por exemplo, as concessionárias não conseguem importar, o que era comum, veículos da Ford, da Nissan, Hyundai, Volkswagen etc. Dessa forma não trocam seus rublos por dólares para pagar as importações. Resultando numa menor pressão de venda da moeda. Menores importações resultam em menores venda de rublos em troca de dólar. O que, por consequência, valoriza o rublo. A queda das importações é estimada em 50%.

Assim, o valor de uma moeda não reflete necessariamente a força econômica. Um rublo mais forte não traz nenhum benefício se o país não puder importar. Na verdade, isto se torna um pesadelo, porque produtos essenciais como máquinas, microchips e computadores não chegam ao país. O microchip, por exemplo, é essencial na fabricação de qualquer eletrônico, desde geladeira a tanque de guerra. Então, a Rússia deixa de receber componentes essenciais para a sua indústria, o que torna impossível para o país se transformar de uma economia baseada nos combustíveis fósseis em uma indústria altamente produtiva. Isto está levando a indústria russa ao colapso. A produção de veículos caiu pela metade e a inflação nos setores de tecnologia e elétrico já passa dos 60%. Portanto, a valorização da sua moeda não reflete a realidade do país.

Assim, resta à Rússia fazer manobras escusas em águas internacionais para poder vender seu petróleo. Mas resta também uma indagação: se o navio que leva o produto não tem a bandeira russa, esse petróleo não poderia estar indo para a própria Europa?


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