Polônia na guerra?

Polônia na guerra?

Putin dirigiu garbosamente um caminhão ao longo dos seus 19 quilômetros.

Jurandir Soares

publicidade

Esta indagação surpreende, mas é o que a Rússia afirma que está por acontecer. E esta entrada da Polônia na guerra se daria pelo fato de estar iminente a derrota da Ucrânia e Varsóvia aproveitaria para assumir o controle da parte Oeste do território ucraniano que lhe faz divisa. A declaração tem algumas inconsistências. Em primeiro lugar, é muito cedo para dizer que a derrota da Ucrânia é iminente. É certo que a contraofensiva ucraniana não está avançando conforme o esperado. Mas é uma contraofensiva, não uma batida em retirada. Outro aspecto e muito importante, a entrada da Polônia na guerra significaria a entrada da Otan no conflito. O artigo 5º do estatuto da Aliança Atlântica estabelece o princípio da defesa coletiva, ou seja, proteção militar a qualquer um de seus membros. Neste caso teríamos uma guerra total, com consequências imprevisíveis, especialmente, pelo fato de a Rússia ter acenado várias vezes com o uso de armas nucleares.

Uma ação mais efetiva nesse sentido foi o deslocamento de parte dessas armas para a Belarus. Vale lembrar um episódio ocorrido a 15 de novembro de 2022, quando houve a explosão de um artefato, presumivelmente, lançado por um míssil russo, na cidade polonesa de Przewodow, situada a 8 quilômetros da fronteira com a Ucrânia. Ao menos duas pessoas morreram.

Na ocasião, o presidente polonês Andrzej Duda chegou a discutir a possibilidade de recorrer ao artigo 4º do tratado da Otan. O trecho permite a um integrante consultar a organização sobre questões preocupantes, quando sente que há ameaça a sua integridade territorial, independência política ou segurança. O Ministério da Defesa da Rússia alegou que não tinha nada a ver com o caso e o assunto parou por ali.

A propósito, uma ação da Polônia em território da Ucrânia levaria também a uma confrontação com a Belarus, país que é governado com mão de ferro por Alekssander Lukachenko, fiel seguidor de Vladimir Putin. Lukachenko tem se mantido no poder através de eleições fraudulentas. Após a sua mais recente recondução houve uma mobilização enorme da população da Belarus que, como a maior parte da ucraniana, quer a entrada do país na União Europeia. As manifestações, como acontece com toda a ditadura, foram sufocadas pela força dos órgãos de repressão. Mas este sentimento segue latente. Ou seja, um envolvimento da Belarus na guerra poderia ser também um fator de desestabilização interna, com a derrubada do regime.

Quanto ao que está realmente acontecendo na guerra, tivemos um recrudescimento dos ataques a pontos vitais da Ucrânia, depois que as forças do país explodiram parte da ponte que liga a Crimeia ao território russo. Essa ponte fora mandada construir por Putin em 2018, portanto, quatro anos após ele ter tirado a Crimeia da posse da Ucrânia. Ao inaugurar a travessia, Putin dirigiu garbosamente um caminhão ao longo dos seus 19 quilômetros. A obra se tornou muito importante para o abastecimento das tropas russas em território ucraniano. Tanto no que toca ao fornecimento de armamentos como também de alimentos. E, aliás, alimentos é que são as “vítimas” do conflito. Em represália ao ataque, a Rússia decidiu não renovar o acordo que permitia a saída dos cereais ucranianos através do Mar Negro. E mais que isto, a Rússia passou a bombardear as instalações ucranianas no porto de Odessa, onde estão os silos que armazenam os grãos. Putin condicionou a volta de seu país ao acordo se o Ocidente aceitar o retorno dos bancos russos ao circuito financeiro internacional. O que foi obra de uma das múltiplas sanções impostas a Moscou. E o que está demonstrando também que essa sanção impactou as finanças russas.

Porém, para mostrar força, nesta sexta-feira, a Frota do Mar Negro russa começou a praticar abordagens a navios e disparou foguetes em alvos flutuantes. E para incrementar mais as tensões, tanto Moscou como Kiev anunciaram que qualquer navio no Mar Negro em direção a portos do adversário consiste em um alvo militar legítimo, o que levou a protestos pelo mundo, a começar pela Casa Branca, de que a guerra agora iria chegar a embarcações civis inocentes.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895