Por que lutam israelenses e palestinos?

Por que lutam israelenses e palestinos?

Trata-se de uma repetição do que vem acontecendo ao longo dos anos.

Jurandir Soares

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Alcançado acordo de cessar-fogo em Gaza. Esta é a notícia procedente do Oriente Médio, depois de vários dias de confrontos entre as forças israelenses e os grupos palestinos Jihad Islâmica e Hamas, estabelecidos em Gaza. Confrontos que implicaram o uso de múltiplos foguetes lançados de Gaza contra cidades israelenses, mostrando o poder de fogo dos grupos ali estabelecidos. Por mais que tenham atuado os sistemas antiaéreos de Israel, muitos deles atingiram cidades israelenses, causando mortes de civis. Assim como também causaram mortes de civis palestinos as ações das forças israelenses, na caça a líderes das duas organizações consideradas terroristas, com bombardeios de prédios na Faixa de Gaza.

Trata-se de uma repetição do que vem acontecendo ao longo dos anos. Ódio gerando ódio. Tema muito bem retratado na série televisiva israelense “Fauda” (caos, em árabe), falada em hebraico e árabe. O que é novo é atuação conjunta dos dois grupos palestinos a partir de Gaza. Há que se considerar ainda que outro grupo radical, o Hezzbollah, tem atuado contra Israel a partir do Líbano. Até mesmo na Cisjordânia, a área teoricamente mais tranquila, ressurgiram fortes movimentos, que, para os israelenses, são chamados de terroristas, mas, para os palestinos, são de resistência. E o que entra neste contexto é algo que precisa ser levado em conta: a ocupação histórica da área que envolve Israel, Cisjordânia e Gaza. Os judeus reivindicam direitos históricos, bíblicos, a ela. É inquestionável a existência aos tempos bíblicos do Reino de Israel, embora também se falasse em uma Palestina na região. 

Para remeter às origens históricas, é necessário ressaltar que se trata de uma briga de primos que se estende por cinco milênios. Ambos são originários de Abrahão, sendo que os judeus descenderam do filho dele Isaac, filho com Sara, e os palestinos de Ismail, filho com a concubina Agar. Estamos falando de 2.500 anos a.C., em Ur, na Caldeia, hoje Iraque. Mas vamos pular séculos e chegar até a época do Reino de Israel, iniciado por Saul, em 1025 a.C. e que viveu seu período de esplendor. Até os judeus serem derrotados pelos romanos, quando viram seu reino ruir e, em 135 d.C., estabelecer-se a Diáspora, ou seja, a expulsão dos judeus daquelas áreas e a sua dispersão pelo mundo. Seu retorno a ela só começou a acontecer a partir de 1898, com Theodor Herzl pilotando o movimento chamado Sionismo, termo criado em 1886 por Nathan Birnbaun, que pregava um lar nacional para os judeus. E este retorno se dava para a área chamada de Palestina, então sob o controle do Império Otomano. Portanto, passaram-se cerca 1.700 anos até o retorno. Nesse ínterim, havia florescido ali uma comunidade árabe islâmica, os palestinos. A qual, por ter nascido ali, assim como seus ancestrais, se achava nativa e passou a resistir aos retornados, que alegavam vínculos históricos com a região. Pulando mais uma vez na história, para ser sucinto, a ONU decidiu pela divisão da área em dois estados, Israel e Palestina. Israel aproveitou e criou, em 1948, o seu Estado nacional, porém os palestinos não aceitaram e, com o apoio do mundo árabe, foram à guerra contra o recém-criado Israel. E perderam. Aí se deu a Diáspora palestina e a perda da oportunidade de terem constituído também seu lar nacional.

A causa palestina, no entanto, teve o respaldo da ONU, em 1967, quando decidiu que as áreas da Cisjordânia e da Faixa de Gaza seriam destinadas a seu Estado Nacional. Jerusalém, cobiçada por ambos os povos para ser sua capital, ficaria com um status de “cidade internacional”. Hoje, Israel mantém o controle total sobre Jerusalém, a qual decretou ser sua capital “una e indivisível”. Assim como mantém o controle sobre a Cisjordânia, onde cria assentamentos. Múltiplas negociações têm sido desenvolvidas ao longo dos anos para solucionar o problema, mas nunca houve uma definição. Chegou a haver um acordo em 1993, mediado pelos EUA e festejado por boa parte do mundo, mas não avançou. E assim é que seguem os confrontos. Os chamados “Acordos de Abrahão”, iniciativa de Donald Trump quando na presidência dos EUA, pelos quais Israel assinou acordos de paz com alguns países árabes, podem ser um pequeno fio de esperança para que israelenses e palestinos parem de brigar.


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