Portugal é reflexo da Europa

Portugal é reflexo da Europa

Nome do partido, Chega, já reflete a intenção de seus componentes de acabar com a dualidade que vem se mantendo no país entre centro-direita e centro-esquerda

Eleição em Portugal mostrou crescimento do Chega

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O comando do governo em Portugal, desde o restabelecimento da democracia em 1974, vinha se alternando entre o Partido Social Democrático, de centro-direita, e o Partido Socialista, de centro-esquerda. A eleição deste domingo que passou referendou a histórica disputa, porém apresentou um novo ator com poderes de influir. É o Chega, partido de extrema-direita, movimento que ganha força na Europa, vide os governos de Viktor Orbán, na Hungria, de Georgia Meloni, na Itália, Geert Wilders, na Holanda, e Andrzej Duda, na Polônia.

Além do crescimento de Marine Le Pen, na França, Santiago Abascal com seu Vox na Espanha e a AfD, Alternativa para a Alemanha. E mesmo na até há pouco neutra Suécia, a extrema-direita avançou com o Democratas Suecos, um partido nacionalista e anti-imigração. Aliás, esta questão da imigração é a que move praticamente todos os partidos da direita radical na Europa.

Com as guerras na Síria, no Iraque, no Iêmen, no Sudão e as secas e fome na África, a Europa tem sido inundada por imigrantes nos últimos tempos. É comum ver-se a imagem de algum barco, apinhado de gente, tentando chegar à ilha italiana de Lampeduza, para dali os ocupantes serem enviados para o território europeu.

Não deixa de ser comum, também, a imagem de barco afundando e pessoas tentando sobreviver no mar. Estes contingentes se, por lado, representam uma mão de obra barata para os serviços que os europeus não querem executar, por outro, representam também um enorme contingente inabilitado, que não consegue onde trabalhar e que irá engrossar o contingente dos desocupados que perambulam pelas ruas das grandes cidades, em busca de alguma coisa para comer.

Vale ressaltar que o fator que deu à vitória ao Brexit, ou seja, a saída do Reino Unido da União Europeia, foi a questão da migração. Na França, o contingente de islâmicos é cada vez maior. Assim como, proporcionalmente, é cada vez maior o número de desocupados que se espalham pelos bairros de Paris ou de outras grandes cidades. Na Alemanha, sob o governo de Angela Merkel, só no ano de 1975 entraram cerca de um milhão de imigrantes no país.

Em Portugal a situação não é tão grave, mas o país tem cerca de 980 mil estrangeiros, o que representa 10% da sua população. Destes, cerca de 40%, ou aproximadamente 390 mil, são brasileiros. Porém, em termos de Europa, Portugal tem um fluxo contrário. É grande o número de portugueses que, aproveitando a cidadania europeia, vão trabalhar em outros países.

Afinal, enquanto o salário mínimo em Portugal é de 680 euros, na Suíça é de 4.500 euros. Assim, é muito comum se encontrar cidadão português trabalhando na Suíça como dentista, enfermeiro, motorista de táxi ou aplicativo, garçom, atendente de hotel etc. Muitos destes empregos vão ser ocupados em Portugal por brasileiros. Daí o contingente significativo de nossos conterrâneos que estão chegando por lá.

Mesmo assim o país não ficou imune ao crescimento da extrema-direita, cujo partido Chega é comandado por André Ventura. O nome do partido, Chega, já reflete a intenção de seus componentes de acabar com a dualidade que vem se mantendo no país entre centro-direita e centro-esquerda, assim como colocar uma tranca na chegada de imigrantes. E, com a expressiva votação que teve na eleição de domingo, passando de 12 para 48 cadeiras, o partido ficou em condições de forçar o PSD a fazer uma coligação com ele para poder governar.

Fato que, pela linha política do Chega, se constitui numa ameaça para os brasileiros que estão tentando migrar para Portugal ou para aqueles que estão lá, mas não conseguiram ainda a legalização de sua permanência. Para os brasileiros há o aspecto diferenciado de Portugal ser a “pátria mãe”, ter tido uma influência enorme na formação do Brasil e, por extensão, ter o mesmo idioma.

Fatores que diferenciam de imigrantes de outras partes, que não falam o mesmo idioma, que têm outros costumes e são adeptos de religiões fundamentalistas. Seja como for, caberá aos partidos tradicionais controlar os ímpetos do Chega. Afinal, o que acontece em Portugal é um reflexo do que acontece na Europa, no entanto, com algumas diferenças marcantes.


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