Putin não aceitou plano de Xi

Putin não aceitou plano de Xi

Presidentes terminaram suas conversações em Moscou enfatizando mais uma vez o reforço na “associação estratégica” entre os dois países

Jurandir Soares

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Não houve nenhuma manifestação oficial a respeito do plano de 12 pontos para a paz na Ucrânia elaborado pelo presidente chinês, Xi Jinping. O líder chinês e o presidente russo, Vladimir Putin, terminaram suas conversações em Moscou enfatizando mais uma vez o reforço na “associação estratégica” entre os dois países, mas não declararam nada mais efetivo sobre a proposta de Xi. A única coisa que transpirou é que a Rússia entendia que o plano poderia embasar futuras negociações, porém rejeitava algumas partes dele. E o que parece ter sido rejeitado é ponto principal para pôr fim à guerra: a integridade territorial da Ucrânia. O plano de Xi, que disse tê-lo elaborado com base nos princípios da Carta da ONU, previa a retirada da Rússia de todos os territórios ocupados, inclusive a Crimeia, que fora tomada por Moscou em 2014. Putin teria que abandonar Kerson, Zaporija, Donetsk e Lugansk, que constituem seu objetivo básico, pois havia declarado, de forma unilateral, a independência dessas províncias pouco antes da guerra.
Fosse esse plano aceito por Putin não haveria mais motivo para a guerra continuar. O detalhe é que aceitar essas condições seria uma total humilhação para Putin. Sairia do conflito completamente desmoralizado, pois perderia até a Crimeia, que já recuperara em ocasião anterior. O que se tem dito é que Putin precisa de uma recompensa para parar com a guerra. Senão, como ele vai explicar para o seu povo que guerreou ao longo de 13 meses com a Ucrânia, perdeu soldados e armamentos, teve gastos extraordinários e seu país levou sanções econômicas, e ele sai em condições piores do que quando entrou.v

Assim é que a esperança de paz parece se desvanecer. Diante disto crescem as possibilidades de a guerra se ampliar. Em primeiro lugar, pela extraordinária quantidade de armamentos que entrará na Ucrânia nos próximos dias, fornecidos pelo Ocidente. São tanques dos EUA, Alemanha, Reino Unido e Suécia. E armamentos pesados fornecidos por outros países ocidentais. Acrescendo-se ainda caças de combate a serem fornecidos pela Polônia. Ao mesmo tempo surge um novo agente no conflito: o Japão. O primeiro-ministro Fumio Kishida foi a Kiev nesta terça-feira, para encontrar-se com o presidente Volodimir Zelensky. No momento em que acontecia este encontro a Rússia realizava manobras militares intimidatórias nas proximidades do Japão, para onde deslocou dois aviões bombardeiros, que foram escoltados por aviões caças.

Fica, diante de tudo isto, uma observação final sobre as declarações conjuntas de Xi e Putin, pois enfatizaram que seus países “mantém uma união especial”. Algo que se junta à declaração de “amizade eterna” feita por ambos depois da visita de Putin a Pequim, pouco antes de iniciar a guerra na Ucrânia. Acrescente-se a isto as preocupações manifestadas por Xi “com os crescentes vínculos entre a Otan e os países da região Ásia-Pacífico em questões militares e de segurança”. Ou seja, diante do fracasso do plano de paz teremos o incremento das relações entre China e Rússia. No âmbito comercial já foi sacramentado com anúncio do aumento do intercâmbio e do fornecimento de gás da Rússia para a China, o que se dará através de um oleoduto que partirá da Sibéria. Porém, o passo seguinte poderá ser o fornecimento de armamentos à Rússia por parte da China. Com o evidente incremento na guerra e suas perigosas possibilidades de ampliação para um confronto direto entre as partes.


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