Putin, o exterminador

Putin, o exterminador

Alexei Navalny, que aos 47 anos morreu em uma prisão russa na Sibéria, é apenas mais um na lista de opositores que Vladimir Putin vai afastando de seu caminho.

Jurandir Soares

Putin assumiu o poder em julho de 1999

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Esta lista é grande e envolve nomes de expressão da política ou dos negócios na Rússia. Porém, Navalny, que estava condenado a 30 anos de prisão, talvez tenha sido o maior crítico da corrupção vigente nos mais altos escalões do governo Putin. Ele destapou dezenas de casos turbulentos da elite russa que atua na órbita do Kremlin. Por isto foi envenenado, foi para a Alemanha, recuperou-se e voltou para seu país para continuar sua luta. Mal reiniciou e já foi levado para o cárcere, onde suas condições de saúde só pioraram, até morrer nesta sexta-feira. Nada de estranho num país que há quase 25 anos vem sendo governado por um burocrata formado, aos tempos da extinta União Soviética, na KGB, o antigo serviço de espionagem do sistema. Em função disto, Putin é um saudoso dos tempos em que, através da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Moscou dominava toda sua vizinhança. E não é por outro motivo que decidiu invadir a Ucrânia, num passo determinante para trazer de volta para a órbita de Moscou aquele que era o segundo país mais importante dos tempos da URSS.

Assim como Putin não teve escrúpulos para invadir um país independente, impedindo que seguisse seu caminho de integração com a Europa Ocidental, conforme foi feito pela quase totalidade dos países que integravam a URSS, também não teve escrúpulos para fazer suas grandes negociatas no âmbito do governo. Algo que foi denunciado por Navalny, entre tantas publicações, num vídeo de 113 minutos, em que mostrava as negociatas de Putin com empresários corruptos e os bens que o presidente foi acumulando, entre eles um luxuoso palácio às margens do Mar Negro, com visão para um cenário deslumbrante. Em seu interior, estátuas douradas emolduravam o caminho para um cassino, um teatro, uma piscina e uma discoteca, que tinha até uma barra de pole dance. Não foi sem razão que, a 20 de agosto de 2020, quando Navalny voltava de Tomsk, na Sibéria, para Moscou, sentiu-se mal em pleno voo, com o avião tendo que fazer um pouso de emergência em Omsk. Estava concretizado o seu envenenamento. Foi para a Alemanha para tratar-se, mas teve a ousadia de voltar à Rússia para continuar a sua luta contra o regime. Não deu outra, arrumaram justificativa de conspiração contra o governo para colocá-lo na prisão, numa clara condenação à morte.

Foi se somar a uma lista de opositores de Putin que tiveram morte misteriosa. Como o recente acidente com o avião do líder do grupo de mercenários Wagner, Yevgueny Prigozhin, que ousara desafiar as ordens militares de Putin na guerra da Ucrânia. Antes havia sido encontrado morto na prisão o general Gennadi Lopirev, 69 anos, que chefiara a construção do palácio às margens do Mar Negro. Quando foi descoberta a corrupção na construção do palácio quem foi para a cadeia foi o general. E, evidentemente, que, para que não falasse, “adoeceu” e morreu na cadeia. O magnata Pavel Antov, 65 anos, ousou criticar a invasão da Ucrânia. Foi encontrado morto em um hotel na Índia. Outro que criticou a invasão da Ucrânia foi o magnata presidente da gigante russa do petróleo e gás Lukoil, Ravil Maganov, 67 anos.

Simplesmente morreu ao cair de uma janela do sexto andar de um hospital de Moscou. O jovem Ivan Petchorin, 37 anos, diretor da Corporação para o Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico, morreu ao cair de um barco em movimento. Outro jovem, Andrei Krukovski, 37 anos, realizava uma caminhada quando caiu de um penhasco. Poderia ir adiante com esta lista, mas paro por aqui, porque já se tem a clara imagem de como age Vladimir Putin. Um homem que elimina de seu caminho todo aquele que atrapalhe seus negócios ou que queira concorrer com ele à presidência da República.

A propósito, no próximo dia 15 de março haverá eleição presidencial na Rússia e não há a mínima dúvida de quem resultará vencedor. Putin assumiu o poder em julho de 1999 para concluir o mandato de Boris Yeltsin. No ano 2000 foi eleito para a presidência e foi reeleito no pleito seguinte. Como não poderia se candidatar a um terceiro mandato, arrumou um testa de ferro, Dmitri Medvedev, que foi eleito e ele assumiu como primeiro-ministro, mas sendo o mandatário de fato. Depois disto ele já manobrou o sistema eleitoral, de modo que poderá permanecer no poder até 2036. Este, portanto, o homem que viola as leis e extermina os adversários é o “democrata” que governa a Rússia.


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