Recessão à vista

Recessão à vista

Países do chamado Primeiro Mundo voltam a enfrentar altos índices de inflação

Jurandir Soares

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Há muito que os países do chamado Primeiro Mundo não enfrentavam índices de inflação tão altos e perspectivas de crescimento tão baixas como estão enfrentando atualmente. Enquanto os Estados Unidos vêm convivendo com uma inflação que supera os 9%, a Europa enfrenta taxas superiores a 10%. O remédio tem sido o aumento nas taxas de juros. Os norte-americanos, que estavam acostumados com taxas que iam do zero a 0,25%, estão com taxas que superam os 6%, no que se tornou o ciclo de aumentos de juros mais rápido da história do país desde a década de 1980. Como resultado o Federal Reserve, o Banco Central do país, está falando no risco de a economia entrar em recessão já no primeiro trimestre do ano que vem. Em meio a esta situação, o governo Biden gastou no ano passado 3 bilhões de dólares no combate à pandemia e em auxílio à vítimas do surto. E neste ano gastou mais outros 3 bilhões de dólares em ajuda a Ucrânia para seu enfrentamento com a Rússia.

Aliás, segundo a OCDE, Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, a guerra da Ucrânia tem ajudado substancialmente para a recessão também na Europa. De acordo com o relatório divulgado na segunda-feira, 28, “a desaceleração da atividade econômica é mais forte do que o previsto e a inflação dura mais tempo do que o esperado.” E o pior é que o crescimento mundial deve continuar estagnado no segundo semestre de 2022, antes de desacelerar ainda mais em 2023 para alcançar um nível de crescimento mundial de somente 2,2%. Tudo isto devido ainda aos reflexos da pandemia, mas, principalmente, ao aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos em decorrência da guerra.

Um dos países que mais tem sofrido com estes fatores é a Alemanha, para quem a organização está referendando a recessão e um recuo do PIB de 0,7% em 2023. A propósito, a Alemanha está procurando se livrar da dependência do gás fornecido pela Rússia. Nesta terça-feira, 29, firmou acordo com o Catar para o fornecimento de gás ao longo de 30 anos. O problema é que este fornecimento só começará em 2026. Até lá o país terá que ir se virando com a retomada das atividades das usinas nucleares e a carvão, que haviam sido fechadas por pressões dos ecologistas. 

A inflação na Europa deverá permanecer em alta no próximo ano, acima dos 9%. Somente para 2024 que há a perspectiva de uma pequena redução, para 6,6%. A China não está imune a esta situação. Pelo contrário, a grande potência asiática está enfrentando uma nova onda de Covid, que está obrigando o governo a decretar novo lockdown, para desespero dos chineses, que têm saído às ruas para protestar. As projeções para o país indicam um crescimento do PIB de 3,2% em 2022, o menor índice desde 1976. Recuo significativo para um país que por mais de uma década manteve uma média de crescimento de 10%. Enfim, segundo o relatório da OCDE, “estamos lidando com uma grande crise de energia e os riscos continuam apontando para o lado negativo com crescimento global mais baixo, inflação alta, confiança fraca e altos níveis de incerteza”.


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