Reino Unido está isolado

Reino Unido está isolado

No Reino Unido, o que é ruim pode ainda piorar

Jurandir Soares

publicidade

No Reino Unido está valendo aquela máxima de que “aquilo que está ruim pode ficar ainda pior”. Isto aconteceu com a saída do descabelado e festivo Boris Johnson do governo e a ascensão de Liz Truss. Governar o Reino Unido hoje não é uma tarefa para principiantes. O país é um dos que sofreram maior impacto na sua economia nos últimos dois anos, o que é causado por dois fatores: a pandemia, que atingiu todo o mundo, provocando desabastecimento e inflação, e o Brexit, que fez os britânicos terem que pagar taxas nos negócios com membros da União Europeia, o que antes não existia. Hoje, por exemplo, uma montadora de carros britânica tem que pagar taxas para importar componentes de outros países da comunidade, o que antes era livre.

Ao tentar enfrentar este turbilhão Liz Truss não resistiu e ficou apenas 44 dias no cargo. Desde que foi eleita, Truss tentava demonstrar que buscaria imitar Margaret Thatcher com um governo liberal. Tanto que sua primeira medida foi uma ação clássica do liberalismo: baixar impostos. Proposta logo rejeitada por seus próprios pares de governo, que a consideraram um inviabilizador do processo de governança. Embora diminuindo, no Reino Unido o “Walfare State”, ou seja, o provimento pelo Estado de serviços essenciais como saúde, educação e segurança, ainda é muito forte. E isto demanda recursos que já são escassos e se tornariam ainda menores, segundo integrantes do próprio ministério. Como o ministro das Finanças Kwasi Kwarteng, que iniciou a aplicação do desastrado plano econômico de Truss. Passado o luto pela morte da rainha Elizabeth II, em 23 de setembro, foram anunciados cortes históricos de impostos e aumento de empréstimos. O anúncio derrubou os mercados e os títulos do governo britânico, fazendo com que a libra caísse ao seu menor patamar em relação ao dólar em 37 anos. O Banco da Inglaterra teve que fazer uma intervenção de emergência para salvar os fundos de pensão.

Na sexta-feira da semana passada, 14, Truss se viu obrigada a demitir seu ministro das Finanças, nomeando para o cargo Jeremy Hunt, ex-ministro de Relações Exteriores e Saúde. Pediu desculpas pelos erros cometidos e assegurou que continuaria no cargo. Promessa que referendou nesta quinta-feira, 20, em meio ao pedido de demissão da ministra do Interior Suella Bravermann, um nome de peso de seu governo. Como se sabe, no dia imediato renunciou. Agora, logicamente ficam as especulações sobre quem assumirá. O Partido Trabalhista de oposição quer a antecipação das eleições, que seriam realizadas somente em 2024. Os conservadores no poder, no entanto, se articulam para indicar logo o nome de um substituto. E aí a surpresa de despontar o nome de Boris Jonhson para voltar ao posto, de onde saiu impulsionado não tanto pelas questões econômicas, mas pelas festas que fazia no Downing Street 10 durante a pandemia. Mas há outros nomes, onde se destaca o do ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, que foi derrotado por Trass na indicação para premiê. O fato é que quem assumir vai ter que enfrentar uma crise que só é superada por aquela vivida pelo país logo após a Segunda Guerra Mundial. E mais, com o Brexit, hoje o Reino Unido está isolado de seus parceiros europeus, com os quais até há pouco negociava livremente. Deixa de participar de 41 acordos que o bloco possuiu com mais de 70 países. E sem contar com o auxílio que o Fundo Europeu fornece para os parceiros endividados.


Mais Lidas

Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895