Têm russos lutando contra a Rússia

Têm russos lutando contra a Rússia

Nova fase da guerra na Ucrânia: russos lutam contra as forças de Putin em ataque surpresa

Jurandir Soares

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Desde que começou a guerra, a 24 de fevereiro de 2022, a Ucrânia deixou claro que suas forças atuariam apenas de forma defensiva, dentro do território ucraniano. Não iriam combater dentro da Rússia, tampouco atacar aquele país. Nesta semana, no entanto, veio a informação de um ataque do exército ucraniano na cidade russa de Belgorodo. Ataque este que, segundo a agência oficial de notícias russa RIA, teria sido repelido. Com a morte de 70 atacantes. Na realidade, este ataque, que foi perpetrado com a utilização de vários blindados dos Estados Unidos e um russo, com o uso de emblema do Exército ucraniano, teria sido desfechado por integrantes de duas organizações de dissidentes russos. São paramilitares opositores de Vladimir Putin.

As organizações se denominam Corpo de Voluntários Russos e Legião Russa Livre, lideradas por conhecidos direitistas russos, como Alexei Levkin, que vive fora da Rússia. Sua ação, inovadora no conflito, seria para perturbar os sistemas de defesa da Rússia e dar suporte à anunciada contraofensiva da Ucrânia. De acordo com o relato do jornalista Javier G. Cuesta, para o espanhol El País, em questão de minutos os invasores tomaram o controle do posto fronteiriço de Kozinka, entre a província russa de Belgorodo e a ucraniana de Sumi. Em uma operação relâmpago, os cerca de 100 homens que participaram tomaram uma área de cerca de 30 quilômetros quadrados, 8 quilômetros dentro do território russo. O governador de Belgorodo, Viacheslav Gladkov, disse que a operação, iniciada na segunda-feira, continuava em marcha na terça, mas que acabou sendo rechaçada, com a morte de 70 invasores e a destruição de quatro blindados. Denis Nikitin, líder do Corpo de Voluntários Russos, disse ao Financial Times que na quarta-feira seus homens continuavam em solo russo. O jornal russo independente Marsh assegurava que na tarde de ontem os infiltrados ainda continuavam em território russo. Em troca, canais russos de análise de guerra anunciavam via Telegram que a operação fora liquidada às cinco da tarde.

Embora o governo ucraniano desminta, há informações de que a operação dos dissidentes russos foi realizada com o suporte de forças ucranianas. Algo que acende uma luz de alerta pelo novo nível que a guerra assume. Isto porque os EUA sempre alertaram que o armamento que fornecem à Ucrânia não poderia ser utilizado em território russo. Mas, para Jyri Lavikainem, especialista em segurança do Instituto Finlandês de Estudos Internacionais, tratou-se de “uma operação de confusão muito inteligente, que busca meter pressão nas forças russas diante da contraofensiva”. E acrescentou que, “com a ação do outro lado da fronteira, os ucranianos conseguiram duplicar a frente que os russos devem proteger”.

Seja como for, uma coisa é certa, de acordo com o prefeito de Bolgorodo, Valentin Demidov, a população da cidade está amedrontada, pois a guerra cruzou a fronteira e chegou a apenas meio quilômetro de suas casas. Ele pediu calma e disse que havia muita desinformação sobre bombas em edifícios da cidade. Mas, de acordo com o que informou a municipalidade, a operação deixou um civil morto e 12 feridos. Ou seja, estamos diante de uma nova e perigosa etapa da guerra, mas que assinala, pela primeira vez, o medo chegando à Rússia e russos lutando contra as forças de Vladimir Putin.


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