Terrorismo ou resistência?

Terrorismo ou resistência?

E a propósito, apesar de ter encerrado sua operação na Cisjordânia

Jurandir Soares

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Depois de encerrar sua incursão à cidade de Jenin, na Cisjordânia, onde mataram 12 palestinos e tiveram um soldado morto, as forças de Israel se defrontaram nesta quinta-feira com forças do Líbano. O confronto ocorreu em território que não é de nenhum dos dois países: no vilarejo de Ghajar, nas colinas de Golan, que pertencem à Síria. Ocorre que o Líbano ocupa o norte do vilarejo e Israel toma conta do sul. O conflito começou quando um foguete, lançado do sul do Líbano, atingiu a vila, o que provocou uma reação imediata de Israel. Líbano e Israel estão tecnicamente em guerra, embora os confrontos tenham sido esporádicos. No ano passado, os dois países chegaram a assinar um acordo demarcando suas fronteiras marítimas. Ocorre que no sul do Líbano está instalado o Hezbollah, movimento guerrilheiro xiita, que luta a favor dos palestinos. E seguidamente tem entrado em confronto com o exército israelense.

E a propósito, apesar de ter encerrado sua operação na Cisjordânia, o Exército israelense foi alvo de ataque de um palestino solitário, que matou um soldado israelense e tentou fugir, mas acabou sendo abatido. Esta ação foi reivindicada pelo grupo radical Hamas, estabelecido na Faixa de Gaza, cuja manifestação revela a realidade do que acontece na região. “Esta operação heroica é uma reação ágil à ofensiva da ocupação contra o nosso povo”, declarou o braço armado do grupo. A operação em Jenin, no norte da Cisjordânia, área palestina ocupada por Israel desde 1967, mereceu crítica inclusive do secretário geral da ONU, Antônio Guterres, que voltou a dizer que a “escalada não é a resposta”. Ele acrescentou que, embora considere legítimas as preocupações israelenses com a própria segurança, o uso de ataques aéreos como os vistos nos últimos dias não condiz com a lei.

A lei a que o secretário se refere é a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 43/177, de 15 de dezembro de 1988, que “reconheceu” a Declaração de Independência da Palestina, de novembro de 1988, e substituiu a designação de “Organização de Libertação da Palestina” por “Palestina” no sistema das Nações Unidas. Tem-se que considerar ainda que os dois povos chegaram a assinar um acordo de paz, com o reconhecimento mútuo dos respectivos estados, o que aconteceu em 1993, sob a mediação do então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton. Os signatários, o então primeiro ministro Yitzhak Rabin e o chanceler Shimon Peres, por Israel, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, acabaram ganhando o Prêmio Nobel da Paz. O acordo, no entanto, não chegou a ser posto em prática, porque Rabin foi assassinado por um conterrâneo seu, um judeu radical. Depois disto assumiu o governo de Israel Ariel Sharon, se estabelecendo um retrocesso total nas relações entre os dois povos.

Entre os palestinos também deu-se um racha, envolvendo as facções Fatah, sediada na Cisjordânia, que se manifestava a favor da concretização do acordo que reconhecia a existência do Estado de Israel e da constituição do Estado Palestina, e o Hamas, sediado em Gaza e que não aceita a existência de Israel e que tem como filosofia a destruição do mesmo e a tomada da área pela força. Em função desta posição radical, o Hamas passou a ser reconhecido como organização terrorista. As negociações que vinham sendo desenvolvidas pelo presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mohammud Abbas, com as autoridades israelenses, praticamente estancaram desde que Benjamyn Netanyahu assumiu o poder em Israel. E o que se tem visto é uma intensificação dos confrontos. Os quais, até há pouco, estavam concentrados em Gaza, porém acabaram também envolvendo a Cisjordânia e até Jerusalém. E assim, enquanto Israel diz que combate os terroristas, os palestinos dizem que suas ações são de resistência. E com isto, sem um acordo, o conflito se perpetua.

 


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