Tiro de Putin saiu pela culatra

Tiro de Putin saiu pela culatra

A entrada da Finlândia na Organização do Tratado do Atlântico Norte, concretizada nesta terça-feira, representou para o presidente russo, Vladimir Putin, o que se convenciona chamar de tiro pela culatra.

Jurandir Soares

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A entrada da Finlândia na Organização do Tratado do Atlântico Norte, concretizada nesta terça-feira, representou para o presidente russo, Vladimir Putin, o que se convenciona chamar de tiro pela culatra. Isto porque Putin invadiu a Ucrânia porque não queria a presença da Otan junto de sua fronteira, o que aconteceria com a entrada do país vizinho na Aliança Atlântica. Só que, com a entrada da Finlândia como 31º membro da organização, a fronteira da Otan com a Rússia, que era de 1.215 quilômetros, mais que duplicou, sendo acrescida de 1.340 quilômetros da fronteira finlandesa-russa.

Antes da guerra da Ucrânia, apenas 25% dos finlandeses aprovavam a adesão do país à organização. Pesquisa recente apontou a aprovação de 75% da população. Isto se dá pelo fato de que os vizinhos europeus não confiam na Rússia de Vladimir Putin. E estão fazendo o que já fizeram outros países que ao tempo da União Soviética orbitavam em torno de Moscou, como Polônia, Hungria, Bulgária, Tchéquia, Romênia e Eslováquia. Assim como fizeram as três repúblicas bálticas Estônia, Letônia e Lituânia, que, tão logo faliu a União Soviética, trataram de aderir à Otan, porque sabiam que no futuro poderiam voltar ao jogo de Moscou, ao qual estiveram submetidas por longa data. E quem está na fila para entrar na Otan é a Suécia, que ainda terá que esperar até meados do ano. O entrave para as pretensões dos países nórdicos tem sido a Turquia, que usa sua posição geográfica estratégica para a Otan a fim de pressionar por seus interesses. E os interesses turcos não são nada humanitários. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, reclama que Finlândia e, principalmente, Suécia têm dado proteção aos guerrilheiros curdos-turcos que buscam refúgio naqueles países. Acontece que os curdos, que formam uma nação sem pátria, que se estende por Turquia, Irã, Iraque e Síria, lutam pela sua independência, porém o governo turco os vê como terroristas e os persegue. Estados Unidos e Reino Unido pediram nesta quarta-feira que os parceiros da organização ratifiquem o mais rápido possível o ingresso da Suécia. O certo é que os interesses da Otan acabam falando mais alto do que os do autoritário Erdogan.

Voltando à Rússia, esta, ao tomar conhecimento da oficialização da Finlândia como membro da Otan, ameaçou com represálias. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, afirmou que “é um novo agravamento da situação, um ataque à nossa segurança que nos obriga a tomar contramedidas”. O “pequeno detalhe” é que agora a Finlândia é membro da Otan e, como reza o artigo 5 do estatuto da organização, um ataque a um de seus membros significa um ataque a toda a organização. O que significa que todos devem sair em defesa do atacado. “O presidente Putin queria fechar de golpe a porta da Otan, porém agora mostramos que ele falhou”, disse o secretário geral da Otan, Jens Stoltenberg.

A entrada da Finlândia aporta à Aliança Atlântica um efetivo de 280 mil soldados, entre efetivos e reservistas, e um dos maiores arsenais de artilharia da Europa, que vem sendo aumentado e modernizado gradativamente, justo em função dos temores com a vizinha Rússia. Esta foi a mais rápida entrada de um membro na organização, que completa 74 anos e é integrada pelos seguintes membros: Albânia, Alemanha, Bélgica, Bulgária, Canadá, Tchéquia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, França, Grécia, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Macedônia do Norte, Montenegro, Noruega, Holanda, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, Turquia e agora também Finlândia. A organização fora criada ao tempo da Guerra Fria para se contrapor ao Pacto de Varsóvia, criado pela Rússia e integrado pelos então 15 membros da União Soviética. Com o desmantelamento da URSS, em 1991, o pacto militar também se desintegrou e a Otan tratou de ir trazendo para seu lado os países que se livraram do jugo do comunismo e que aderiram ao capitalismo. Quando chegou a vez da Ucrânia foi quando a Rússia chiou e iniciou a guerra. Uma guerra que o Ocidente pretende levar adiante, fornecendo cada vez mais armamentos à Ucrânia, a fim de ir desgastando gradativamente a Rússia de Vladimir Putin. Talvez quando este sair de cena o conflito possa terminar. Hoje ele está diante de uma situação muito adversa, aumentada com o tiro que saiu pela culatra.


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