Um ano de destruição, mortes e impasse

Um ano de destruição, mortes e impasse

Guerra na Ucrânia está prestes a fechar um ano e Rússia anuncia uma grande ofensiva para a ocasião

Jurandir Soares

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No próximo dia 24, a guerra na Ucrânia completa um ano. Para a ocasião vem sendo anunciada uma grande ofensiva da Rússia. Algo que é posto em dúvida por setores militares norte-americanos, os quais acreditam que a Rússia não tem dispositivos para uma ação mais contundente. Esta ação é a que foi desenvolvida lá em 24 de janeiro do ano passado, quando a Rússia invadiu a Ucrânia na expectativa de uma investida que duraria uma semana ou dez dias no máximo. Nesse período seria tomada a capital Kiev, o presidente Volodimir Zelensky seria destituído e, muito possivelmente, preso, sendo colocado no seu lugar um títere de Moscou. Quando se via as imagens da coluna de veículos armados russos entrando no território ucraniano, cujo comboio se estendia ao longo de 60 quilômetros, se acreditava que isso iria acontecer. Porém, como foi visto por todo o mundo, os russos encontraram uma resistência inesperada. As forças ucranianas fizeram as tropas russas recuar e mudar de estratégia. Voltaram-se para a região Leste, no Donbas, onde situam-se as províncias de Donestsk e Lugansk, onde há um contingente de separatistas que querem a anexação da região à Rússia. Em 2014, quando a Rússia retomou da Ucrânia a Crimeia, já foram travados combates naquela região. Porém, nem ali, onde conta com o apoio de uma parte da população, a Rússia consegue estabelecer um domínio.

O que se tem visto nos últimos meses é um impasse. A Rússia tem avançado sobre cidades do Sul, chegando a conquistar algumas, porém a Ucrânia tem reagido e reconquistado muitas. Diante da situação de impasse, o presidente Zelensky saiu a campo em busca de armas. Esteve no Reino Unido, na França e na Bélgica, mantendo contatos com chefes de Estado e altos comandos da União Europeia e da Otan. As promessas de ajuda foram grandes. Desde os tanques Leopard 2 da Alemanha até os Challanger do Reino Unido, passando pelos Abrams norte-americanos, considerados os mais modernos. O pacote envolve ainda carros de combate, artilharia pesada, defesa aérea, veículos de infantaria e munições. Os Estados Unidos também anunciaram uma ajuda correspondente a 2,5 bilhões de dólares, que inclui 90 veículos blindados de infantaria Stryker, além de novas unidades de blindados Bradley. Ou seja, é armamento que não termina mais. O problema é que esta entrega não é imediata. Os tanques, por exemplo, devem chegar somente no final de março ou início de abril. Até lá a Ucrânia tem que seguir se defendendo com o que tem. Nesta quinta-feira, a capital Kiev foi atacada novamente por mísseis russos. Segundo o porta-voz do governo ucraniano, a metade dos 36 mísseis que foram lançados foi interceptada pelo sistema de defesa aérea. Ou seja, a outra metade atingiu seus objetivos.

Esta situação de impasse e indefinição da guerra foi objeto de uma forte observação do general norte-americano Mark Milley, principal chefe militar dos Estados Unidos. O qual disse que, no atual contexto, nenhum dos lados sairá vencedor da guerra. Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, ele disse: “É praticamente impossível para os russos alcançarem seus objetivos políticos por meios militares. É improvável que a Rússia vá tomar a Ucrânia, simplesmente não vai acontecer”. E acrescentou: “Também é muito difícil para a Ucrânia chutar os russos para fora de todos os territórios ocupados neste ano. Não é o caso de dizer que não vai acontecer, mas é extraordinariamente difícil. E dependeria essencialmente do colapso militar da Rússia”. E o general ponderou aquilo que parece estar mais evidente para todo o mundo: que apenas negociações de paz poderão colocar um fim rápido ao conflito. Porém, o que está evidente também é que não se vislumbra no horizonte a possibilidade dessas conversações. Com o que se deduz que tivemos um ano de destruição, de mortes e de impasse. E a pergunta é: por quanto tempo isto ainda continuará?


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