Uma região sob domínio do narcotráfico

Uma região sob domínio do narcotráfico

A fuga espetacular de Adolfo Macias, conhecido como Fito, líder do cartel de narcotráfico Los Choneros no Equador, desencadeia uma onda de violência intensa.

Jurandir Soares

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O estopim da violência que hoje está vivendo o Equador se chama Adolfo Macias, vulgo Fito, que se tornou uma espécie de Pablo Escobar do Equador, numa alusão àquele que por décadas dominou o narcotráfico na Colômbia, corrompendo ou matando autoridades, assim como simples cidadãos, tendo instaurado o medo e o caos no país. E quando preso vivia nababescamente. Pois com Macias acontece o mesmo. As informações são de que instalou piscinas na prisão, onde promovia festas regadas a boa comida e boa bebida e recebia companhias femininas.

Macias comanda no Equador uma quadrilha de narcotráfico conhecida como Los Choneros, que é associada ao quartel de Sinaloa, poderosa organização criminosa que atua no México. Ele, que está condenado a 34 anos de prisão, fugiu na segunda-feira, quando era transferido da prisão de La Roca para um cárcere regional de Guayaquil. A ordem dada para essa transferência implicou o juiz de garantias cujo nome foi divulgado apenas como Diego P. Numa sessão extraordinária, o Conselho da Magistratura suspendeu as atividades dele, por entender que a ordem de transferência foi dada para facilitar a fuga. Velha sistemática que já era posta em prática na Colômbia ao tempo de Escobar, mas que, na Argentina, era usada ao tempo da ditadura militar com outra intenção. Transferiam presos políticos de uma prisão para outro, porém no caminho facilitavam a fuga. E, quando esses fugiam, eram fuzilados. Neste caso de Fito o Conselho da Magistratura equatoriano entendeu que o juiz cometeu grave delito porque conhecia muito bem a situação do preso e o que poderia ocorrer com sua transferência. O fato levou o presidente Daniel Noboa a declarar que “juízes e fiscais que ajudem terroristas também serão considerados como integrantes das organizações terroristas”.

A fuga de Fito incrementou a onda de violência que domina o Equador nos últimos tempos, que envolve disputas de gangues do narcotráfico que já resultaram em mais de 400 mortes em confrontos dentro das prisões. E foi neste contexto de violência, mais aí ligado à corrupção, que, em agosto de 2023, foi assassinado o então candidato à presidência do país Fernando Villavicencio. Ele denunciara na Frente Parlamentar Anticorrupção, que liderava, o caso envolvendo o que ficou conhecido como “Petrochina”, uma negociata do ex-presidente Rafael Correa, atualmente exilado na Bélgica, com o governo de Pequim.

Sabe-se que corrupção e narcotráfico se constituem num mal endêmico não só do Equador, mas de toda a América Latina. As organizações se tornam cada vez mais poderosas. A Colômbia viveu horrores até conseguir se libertar dos cartéis de Cali e de Medellín, este comandado por Pablo Escobar. O poder desses dois cartéis se transferiu para o México, onde Los Zetas e Sinaloa não só disputam o controle do narcotráfico no país como já estenderam seus tentáculos para outros países. Como no caso presente do Equador, onde tem Los Cocheros e Los Lobos, filiais dos mexicanos. Aqui no Brasil conhecemos bem esses grupos, seus líderes e seu poder. O resultado dessas ações é o aumento significativo da taxa de homicídios nos países da região. E o Equador está com uma taxa de homicídios de 25,9 por cem mil habitantes. Os dados são de 2022 e fornecidos por InSight Crime, Macrotrends e Reuters, que apontam o país com um número quase igual ao do México, que tem 25,2. 

A Colômbia, mesmo tendo acabado com os cartéis, ainda sofre com seus reminiscentes e com a guerrilha, fazendo com que o índice seja de 26,1. Diante desse quadro, o Brasil até que não está tão ruim, com 18,8 mortes por 100 mil habitantes. Mas o país campeão na América Latina em termos de homicídios é aquele que conseguiu reunir no poder governo, legislativo, judiciário, forças armadas e narcotráfico: a Venezuela, com 40,4. Além do elevado número de assassinatos, o país tem 60% da população vivendo abaixo da linha de pobreza e 7 milhões tendo deixado o país, além da maior inflação da América Latina. Como assinalei, os dados são de 2022, com o acentuado crescimento da violência no Equador nos últimos tempos, é possível que o país tenha aumentado o seu índice. Mas, seguramente, ainda abaixo da Venezuela.

"A fuga de Fito incrementou a onda de violência que domina o Equador nos últimos tempos, que envolve disputas de gangues do narcotráfico que já resultaram em mais de 400 mortes em confrontos nas prisões."


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