Violência chega ao Chile

Violência chega ao Chile

Até pouco tempo considerado o país mais seguro e menos violento da América Latina, o Chile está vendo este quadro mudar.

Jurandir Soares

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Até pouco tempo considerado o país mais seguro e menos violento da América Latina, o Chile está vendo este quadro mudar. Basta que se acompanhe os números comparativos com um ano atrás. Em 2022 os homicídios cresceram 33,4% com relação ao ano anterior, segundo dados da Secretaria de Prevenção de Delitos. Os roubos com violência e intimidação subiram 63,1% e os de automóveis 39,8%. No que toca aos homicídios o índice de crescimento no Chile só foi inferior na região ao Equador, que teve um espantoso crescimento de 80%. O presidente Gabriel Boric, que fora acusado por seus adversários de inflamar um discurso de esquerda contra a polícia, nas eleições de 2019, teve que dar um giro de 180º, passando a dar o maior respaldo às ações policiais.

Fato marcante no Chile foi a morte da sargento Rita Olivares, de 43 anos, mãe de dois meninos, quando foi atender uma denúncia de roubo em Quilpué, um povoado situado 120 quilômetros a Oeste de Santiago. O fato gerou uma comoção nacional e escancarou para os chilenos a deterioração de seu sistema de segurança e o aumento substancial da violência. Boric teve que deslocar sua política centrada no aumento dos direitos sociais por um combate à desordem que passou a imperar no país. Deputados aprovaram à pressas seis leis antidelinquência, através das quais procuram garantir a defesa dos policiais, assim como tipificar crimes como a extorsão e a execução, que não eram contemplados na lei. Só que, não faltou um “defensor dos direitos humanos” para dizer que a lei representa um enorme retrocesso para o setor, o que foi dito pelo diretor da Anistia Internacional Rodrigo Bustos.

O fato é que, nos anos mais recentes, a insegurança passou a ser a principal preocupação dos chilenos, que começaram a mudar suas rotinas para evitar ser vítimas do crescente número de crimes violentos. "Podemos pensar que o Chile está sendo um país onde o crime está causando um dano enorme. As famílias sentem hoje em dia um grande risco de ser vítimas de um crime", disse à AFP Daniel Johnson, diretor-executivo da fundação Paz Ciudadana. Entre os crimes de maior impacto social estão os chamados "portonazos", ataques nos acessos a casas ou condomínios, e as "encerronas", como são chamados os roubos de carros em plena via pública mediante interceptações de criminosos armados. O último estudo do instituto de pesquisas Ipsos apontou que para 52% dos chilenos a principal preocupação é a criminalidade, além da presença de quadrilhas organizadas e do narcotráfico. Segundo a polícia, as apreensões de drogas aumentaram 150% em 2021, último dado disponível.

Assim é que o Chile passou a conviver com todos esses crimes que já são comuns na maior parte dos países latino-americanos, mas que sua população não conhecia. Agora, amedrontada, ela está diante da realidade da região.


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