O Rei do suspense

O Rei do suspense

Mistério está na narrativa de 'O Telefone do Sr. Harrigan'

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Na semana em que os cinemas colocam em cena novamente a apavorante figura do assassino da série “Halloween”, outro criador de clássicos do suspense tem nova obra disponível em plataforma de streaming. Salvando as diferenças, o Mike Myers que persegue a personagem de Jamie Lee Curtis e seus afetos próximos, na criação de John Carpenter e Debra Hill, produz um terror diferente da tensão psicológica provocada em “O Telefone do Sr. Harrigan”, saído do potente imaginário Stephen King, e que pode ser visto na grade da Netflix.
Enquanto as mortes e o sangue abundam no terror do matador da máscara de Halloween, a sutileza da tensão psicológica de King é que embala a trama do drama de suspense. A temática se torna hiperatual quando se revela que o telefone protagonista do título é um celular e não um antigo aparelho conectado com fios. A mística do narrador infantojuvenil, baseada em um conto do autor, é capaz de produzir uma empatia contemporânea com o jovem que centraliza a narrativa. Jovem este que narra a história de sua amizade com um idoso milionário. A grande estrela hollywoodiana do filme é Donald Sutherland, que encara o tal senhor Harrigan. Ele é que contrata o garoto Craig para ser seu leitor particular. Para demarcar o passar do tempo, primeiramente o garoto é interpretado por Colin O' Brien e, ao crescer, entra em cena Jaeden Martell. Os dois encarnam o jovem garoto que, após a morte da mãe, vive apenas com seu pai em uma casa simples, ao mesmo tempo em que tenta se enturmar e ser aceito na difícil escola em que vai estudar, aceita o “trabalho” de leitor profissional. Stephen King, como é de costume, trata de surpreender com reviravoltas em uma trama que, em mãos menos talentosas, poderia ser linear, chata e desinteressante. Longe de ser um terror de causar tremores, “O Telefone do Sr. Harrigan” ganha, com a direção de John Lee Hancock, uma tensão ao construir as relações deixando sempre espaço para o mistério, o desconhecido e elementos escondidos nas entrelinhas dos personagens. Há também espaço importante para o drama, que se torna parceiro do suspense e constrói uma teia de relações, sentimentos, emoções e atitudes que revelam a humanidade de cada um dos envolvidos. Tudo muito real, com o toque mágico de King.


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