Lula volta ao Planalto 20 anos depois com enormes desafios

Lula volta ao Planalto 20 anos depois com enormes desafios

Em uma cerimônia marcada por simbolismos e quebra de protocolo

Taline Oppitz

Lula recebeu a faixa e subiu a rampa do Planalto acompanhado de pessoas que representaram o povo brasileiro

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A cerimônia de posse do presidente Lula foi marcada por simbolismos e recados do início ao fim, em um ato histórico. O petista retorna ao Planalto pela porta da frente, como presidente eleito pela terceira vez, 20 anos após sua primeira eleição, em 2002. Os tons dos dois discursos do presidente, no Congresso e para o público, foram distintos. O primeiro, mais institucional, o segundo, apesar de uma linha condutora similar, emotivo.

Consciente da divisão do país, Lula fez uma sinalização necessária, de união e de pacificação. "Vou governar para 215 milhões de brasileiros e brasileiras, olhando para o nosso luminoso futuro em comum e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância", disse ao povo que lotou completamente a Praça dos Três Poderes. Lula se emocionou e chorou ao falar da necessidade de combate às desigualdades e da fome. Porque já a sentiu na própria pele.

No Congresso, o petista destacou a importância do respeito à estabilidade institucional e, estrategicamente, não citou Jair Bolsonaro, apesar das críticas à “herança recebida”. Afinal, parte do público para o qual falava, é aliada do ex-presidente. Lula é um mestre na comunicação e deixou claro que haverá diálogo, mas também limites.

Os desafios de Lula em seu terceiro mandato no Planalto, duas décadas depois da primeira vitória, no entanto, são enormes. Além do país completamente dividido, em que a violência se naturalizou, a civilidade saiu de cena e adversários se tornaram inimigos, ele assume o governo com cenários interno e externo bem mais complexos e delicados do que os de suas duas administrações anteriores. O presidente terá ainda que lidar com um Congresso Nacional acostumado a tornar o Executivo refém, impondo seus interesses, e com as tradicionais exigências de seu próprio partido. Lula também não terá o prazo de “trégua” que costuma ser uma praxe que marca os inícios dos governos.

Quebras de protocolo e simbolismos marcam posse

  • Sem a presença de Jair Bolsonaro, que se recusou a passar a faixa presidencial, a solução definida em função da ausência não poderia ter sido mais simbólica. Lula recebeu a faixa e subiu a rampa do Planalto acompanhado de pessoas que representaram o povo brasileiro: uma criança, um indígena, um negro, uma mulher, um operário e de uma pessoa com necessidades especiais. Também estava presente a cadelinha chamada Resistência, adotada por Janja enquanto Lula estava na prisão. 
  • Lula não perdeu tempo. Ainda no domingo, devem ser publicados no Diário Oficial da União cerca de 50 atos normativos. Entre eles, as revogações de decretos do governo anterior, como o que facilita o acesso a armas e o que estabeleceu sigilo de 100 anos para uma série de temas como investigações. E mais, o teto de gastos, chamado por Lula como estupidez, está com os dias contados.
  • Em sua manifestação no Congresso, Lula afirmou que seu primeiro mandato na presidência foi marcado pela palavra “mudança” e que agora, no terceiro, a palavra é “reconstrução”.

Lula, Janja, Alckmin e Lu Alckmin no Rolls-Royce. Foto: Alexandre/Estadão Conteúdo/CP

Vice-presidente nada decorativo 

A quebra de protocolos esteve presente em diversos momentos durante a cerimônia de posse de Lula como presidente. A começar pela presença do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e de sua esposa, Lu, no Rolls-Royce, tradicionalmente ocupado, segundo o cerimonial, apenas pelo presidente e pela primeira-dama. Quando Alckmin iria subir no carro destinado ao vice, Lula estendeu a mão e chamou seu parceiro para acompanhá-lo. Foi apenas mais um gesto que evidencia que Alckmin, que também comanda o Ministério da Indústria e Comércio, não será um vice decorativo. 

PT perde espaço 

No primeiro mandato de Lula no Planalto, em 2003, foram 34 ministérios. O PT contava com 20 integrantes no primeiro escalão. Do total, quatro eram mulheres. Em sua segunda gestão, em 2007, também foram 34 ministérios. O PT comandou 16 pastas e cinco mulheres integraram o primeiro escalão. No atual mandato, que teve início neste domingo, são 37 ministérios. O partido do presidente conta com 10 pastas. Há 11 mulheres no grupo do primeiro escalão. 

Estarrecedoras

Lula disse que todos os parlamentares e chefes de poderes e instituições irão receber o relatório final elaborado pela equipe de transição. O presidente chamou as informações de estarrecedoras, mas afirmou que cada um deve tirar suas conclusões.


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